Título: `A revolução será sangrenta¿
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 03/07/2007, O País, p. 10

Para a CIA e o embaixador, país estava à beira da guerra civil.

WASHINGTON. Por três vezes, na semana que antecedeu ao golpe militar no Brasil, o embaixador Lincoln Gordon disse à Casa Branca que a situação no país beirava a guerra civil, e que o presidente Lyndon Johnson deveria agir com rapidez para salvar o Brasil do comunismo.

Num dos telegramas, Gordon disse que seria possível tanto uma renúncia de João Goulart, sob ¿uma sólida pressão da oposição militar¿, quanto uma fuga dele do país ¿ou a liderança de um movimento revolucionário populista¿.

Diante disso, Gordon acrescentou: ¿As possibilidades incluem claramente guerra civil, com alguma divisão horizontal ou vertical dentro das Forças Armadas, agravadas pela generalizada posse de armas em mãos de civis em ambos os lados¿.

A CIA também colaborou, e errou, com uma previsão catastrófica. Ela foi enviada num curto telegrama em 30 de março, anunciando que a revolução seria iniciada ainda naquela semana: ¿A revolução não será resolvida rapidamente, e será sangrenta¿.

Num longo telegrama de 27 de março, o embaixador americano deixou claro que a conspiração contra o governo João Goulart já começara há mais de dois anos. ¿Ao contrário de outros grupos golpistas anti-Goulart que nos procuraram durante os últimos dois anos e meio, o movimento Castello Branco mostra perspectivas de amplo apoio e liderança competente¿, afirmou.

Gordon chegou a cogitar uma intervenção aberta dos EUA: ¿Eu entendo bem a gravidade de uma decisão num engajamento de contingência para uma intervenção militar aberta aqui. Mas nós devemos também pesar seriamente a alternativa possível, que não estou prevendo mas posso contemplar, como uma perigo real de derrota da resistência democrática e uma comunização do Brasil¿.

Ao reivindicar uma ação mais firme de Washington, Gordon arrematou: ¿Se for para demonstrar a nossa influência para evitar um desastre maior aqui ¿ o que poderia tornar o Brasil uma China dos anos 60 ¿ esse é o momento em que tanto eu quanto todos os meus conselheiros sêniores acreditamos que devemos colocar o nosso apoio¿. (José Meirelles Passos)