Título: Pressão de eleitor chega pela internet
Autor: Vasconcelos, Adriana e Lima, Maria
Fonte: O Globo, 07/07/2007, O País, p. 8

Senadores recebem e-mails com cobrança e pedidos pela saída de Renan.

BRASÍLIA. Está longe o tempo em que os parlamentares ficavam a salvo da vigilância dos eleitores. Desde que estourou a crise Renan Calheiros (PMDB-AL), os membros do Conselho de Ética enfrentam cobranças, críticas e indignação de cidadãos de todo o país. Em situação mais confortável, os senadores da oposição ficam com suas caixas de e-mail lotadas diariamente - com casos já registrados de até 1.800 mensagens por dia. São pedidos de apoio às investigações e apelos para que tirem Renan da presidência. Além dos e-mails, os cidadãos usam o 0800 do "Alô Senado" e abordam os parlamentares nas ruas.

Suplicy recebe apoio e cumprimento de eleitores

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) tem recebido apoio maciço desde que os governistas começaram a manifestar desconforto com suas cobranças de investigação sobre Renan. "Ô Sibá, nomeia o Suplicy relator!", diz uma das mensagens. "Se o senhor ler este e-mail, e por um acaso o senador Renan sair desta nobre Casa, gostaria que empunhasse uma bandeira brasileira e a colocasse na cadeira do presidente do Senado, num gesto de respeito ao nosso povo", sugere o médico Cláudio Soares ao ex-presidente do Conselho de Ética Sibá Machado.

- Por semana, são quatro mil e-mails. Até que tento, mas às vezes é impossível responder. Quando não dá, insiro num pronunciamento explicando as providências tomadas. Saí hoje para comprar um tênis e depois tomar um café, e foi impressionante o número de pessoas que vieram me cumprimentar e dizer que estou no caminho certo, felizmente - disse Suplicy.

No dia em que renunciou à presidência do Conselho, Sibá recebeu uma enxurrada de e-mails, principalmente do Acre, exigindo que adotasse comportamento isento. Agora, a população começa a mostrar indignação com a escolha de Leomar Quintanilha (PMDB-TO) para o cargo, pelo fato de ele ser investigado por corrupção.

"Renan tem que sair. É uma vergonha para o Senado, para o Congresso, o que está acontecendo. (...) O presidente do Conselho de Ética é denunciado pelo Ministério Público por formação de quadrilha.Vamos limpar essa Casa. Chega de bagunça", apela Gilda T. Hevesi ao senador Heráclito Fortes (DEM-PI).

"Vou agir de acordo com minha consciência"

Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) só na última quinta-feira de manhã - um dia após a sessão em que 14 senadores se revezaram na tribuna em apelos para que Renan deixasse o cargo - recebeu 600 mensagens. Pelo menos dois terços delas foram de apoio, e as demais criticavam as manobras do Conselho.

Nas 24 horas em que assumiu a relatoria do processo contra Renan, Wellington Salgado (PMDB-MG), recebeu 1.800 e-mails, nove vezes mais a média diária que recebia desde que assumiu o mandato como suplente do ministro das Comunicações, Hélio Costa.

- A maioria contestava a minha posição, de que não havia provas para condenar o presidente do Senado. Vou agir de acordo com minha consciência. Se aparecer alguma prova, não terei dúvidas de meter a caneta contra ele - disse Salgado.

Almeida Lima (PMDB-SE), um dos relatores do caso, parou de responder as mensagens:

- Estão tentando transformar o Conselho num tribunal de exceção.