Título: O desastre
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 09/07/2007, O Globo, p. 2

Os líderes dos partidos na Câmara declararam a morte da reforma política. O relatório do deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) foi rejeitado pelo plenário, apesar da ampla articulação que precedeu sua votação. A derrota da reforma mostra que o problema da política brasileira não está nos pequenos ou nos nanicos de aluguel, mas na geléia em que se transformaram os grandes partidos.

- Não se aprova nada nessa Casa contra o Centrão - sentencia o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), a propósito do PP, do PR e do PTB, que juntos têm uma bancada de 105 deputados.

Desde as eleições presidenciais de 2002 - e com maior volume após o escândalo do mensalão - líderes dos principais partidos passaram a advogar o financiamento público das campanhas. Para isso, passaram a defender o voto em lista fechada de candidatos, proposta que teve sua costura original ainda no governo Fernando Henrique. Os pais da lista com financiamento público foram o PSDB, o DEM e o ex-presidente do STF Nelson Jobim. A votação do relatório Caiado foi precedida de conversações e um pré-acordo entre PSDB, DEM, PMDB e PT. Esses partidos têm 296 deputados, número suficiente para aprovar qualquer reforma que necessite de maioria simples ou absoluta.

Somente a fragilidade orgânica dos quatro grandes, diante de um tema considerado relevante por todos, explica a força que PP, PR, PTB e outros partidos menores como PDT, PPS e PSB tiveram nesse processo. Há muitas teorias sobre as razões do fracasso da reforma, e uma delas aponta na direção de dois grandes partidos: o PT, que se dividiu, e o PSDB, que mudou de posição por conveniência eleitoral.

A exemplo do PT na época do plebiscito do parlamentarismo, em 1993, o PSDB mudou de posição tendo em vista as próximas eleições presidenciais. Os tucanos chegaram à conclusão de que, conjunturalmente, o PT e o PMDB, por serem os mais populares, levariam vantagem com o voto em lista. Também concluíram que o financiamento público criaria condições para romper a polarização PT x PSDB, criando condições financeiras para que o PMDB, o DEM e o Bloco de Esquerda construam candidaturas presidenciais em 2010.

No caso do PT, a divisão revela a corrosão interna do partido. Uma parcela de 30 deputados se colocou contra a votação em lista fechada simplesmente por não confiar na sua direção partidária. O escândalo do mensalão detonou a fraternidade petista.