Título: Trabalho escravo: 192 na lista suja
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 11/07/2007, O País, p. 12

Ministério inclui neste semestre mais 51 empregadores na relação.

BRASÍLIA. O Ministério do Trabalho encontrou nos últimos seis meses 51 empregadores utilizando mão-de-obra em situação de escravidão. Os nomes foram incluídos na chamada lista suja do governo. Elaborada pelo ministério, a relação tem agora 192 empregadores, pessoas físicas e jurídicas de 16 estados flagrados usando esse tipo de trabalho em propriedades rurais.

No último semestre, apenas 22 nomes foram retirados da relação pois conseguiram regularizar a situação dos trabalhadores e pagaram as multas aplicadas pelos fiscais. Antes de deixar a lista, o empregador é monitorado pelo período de dois anos. Boa parte dos empregadores que integram a relação suja foi denunciada pelo Ministério Público do Trabalho e responde a ações judiciais pelos crimes.

O maior número de empregadores que exploram o trabalho escravo está no Pará, com 52 nomes na lista do ministério. Em seguida vem Tocantins, com 43; Maranhão, com 32; Goiás, com 24; e Mato Grosso, com 16. O mapa da escravatura no Brasil segue a lógica geográfica do desmatamento da Amazônia e do cerrado. Nas duas regiões, a vegetação nativa tem sido substituída pela atividade agropecuária.

As propriedades onde as irregularidades foram encontradas são fazendas e carvoarias. Nesses locais, a mão-de-obra era utilizada no desmatamento para ampliar a área de pastagem e, em outros casos, para dar espaço a plantações de soja, algodão, café e outros produtos. Os trabalhadores também atuavam na colheita de cana-de-açúcar para a fabricação de álcool e na produção de carvão vegetal.

Entre as 51 pessoas físicas e jurídicas flagradas explorando o trabalho escravo no último semestre estão duas empresas exportadoras de móveis, a Cruzado Móveis e a Móveis Rueckl, localizadas em Rio Negrinho, em Santa Catarina. Elas aparecem como empregadoras da Fazenda Campo Grande, junto com a Indústria Agroflorestal Heyse. Em novembro de 2006, fiscais da Delegacia Regional do Trabalho resgataram pessoas trabalhando para as empresas de forma irregular na colheita de pinus.

Fiscais liberam 138 pessoas em três siderúrgicas

Também ingressaram na lista suja três siderúrgicas: a Ferro Gusa do Maranhão (Fergumar), a Itasider Usina Siderúrgica Itaminas e a Siderúrgica Marabá (Simara). Nesses locais, foram libertadas 138 pessoas que trabalhavam em condições análogas à de escravos em carvoarias que abasteciam os fornos das empresas.

A lista foi criada em novembro de 2003 como referência para empresas e para o sistema financeiro na hora de fechar um negócio. O empregador que explora a mão-de-obra escrava também fica impedido de receber financiamento de bancos estatais. A relação é formulada a partir do resultado de operações do Grupo Especial de Fiscalização Móvel, do ministério, que fiscaliza as condições das propriedades rurais. O grupo também age a partir de denúncias recebidas.