Título: Mantega diz que 'Brasil tem bala na agulha'
Autor: Weber, Demétrio e Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 11/08/2007, Economia, p. 40

Para a Fazenda, "condições sólidas" da economia brasileira tendem a torná-la alvo preferencial de investidores.

BRASÍLIA. O governo veio a público ontem para, em coro, renovar a mensagem de que não há motivos para o Brasil se preocupar com a nova fase de turbulência financeira internacional. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a negar a existência da crise e disse acreditar que a tormenta será dissipada rapidamente. Já a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, afirmou que a economia brasileira está blindada contra crises no exterior.

- Eu acredito que esta turbulência não deve durar, mas, se durar, nós temos muita bala na agulha para enfrentá-la -- afirmou Mantega, referindo-se às reservas externas brasileiras, de cerca de US$158 bilhões.

Ontem ainda, pela manhã, ele havia negado a existência da crise, afirmando que "não podemos falar em crise enquanto ela não afetar o nível de produção e atividade".

Para Mantega, o atual cenário internacional pode ser positivo para o Brasil:

-- Passada esta turbulência, o país continuará sendo um dos endereços prediletos dos investidores, devido às condições que temos. É possível que o Brasil seja até privilegiado, por apresentar condições de solidez e de rentabilidade.

Valorização do dólar é efeito colateral positivo

Mantega lembrou também que o momento trouxe um efeito colateral: ao valorizar o dólar, conseqüentemente tornou as exportações brasileiras mais competitivas:

-- A turbulência nunca é positiva, sempre deixa uma inquietação no ar. Mesmo que não haja repercussão direta, ela sempre traz alguma perturbação. Então, não aposto na turbulência para melhorar o câmbio no Brasil, mas é claro que o câmbio subiu e deve ter acalmado alguns setores que estavam reclamando.

O ministro voltou a afirmar que a turbulência não afeta a economia real, enfatizando que há projeções de crescimento de 5% para 2007, feitas por bancos e economistas. O governo trabalha com taxa de 4,7%, e o Banco Central, com 4,51%.

-- Veja que os empresários nem ligam para isso (a turbulência). Os investidores vêm para cá para ganhar dinheiro com operações sólidas e de baixo risco. O que pode acontecer é uma seleção de países (por parte dos investidores) - disse.

A ministra Dilma reforçou o coro e descartou o risco de ameaça ao crescimento:

- No passado, diante da crise asiática, da crise russa e mesmo no início da mexicana, tivemos problemas seriíssimos no Brasil. Mas hoje nós temos uma blindagem em relação ao exterior - afirmou. - É óbvio que, ao afetar a economia internacional, (a flutuação na economia americana) afeta o Brasil. Mas o que estou dizendo é que esse efeito é bastante minimizado.

Para Dilma, crises fazem parte do ciclo econômico

Ao demonstrar seu otimismo, Dilma fez até comparação do desempenho do Brasil com o de outras nações:

- É possível hoje conceber o Brasil crescendo, mesmo com alguns países passando por certa flutuação.

A ministra afirmou ainda que, por outro lado, países emergentes como China e Índia, além da União Européia, apresentam taxas "robustas" de crescimento, favorecendo a economia mundial. Ela lembrou que crises no mercado financeiro internacional fazem parte do ciclo econômico.

- Acho que a economia americana vai superar e vai continuar sendo esse motor do crescimento econômico internacional.

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