Título: Cresce trabalho infantil nas casas dos patrões e nas ruas brasileiras
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 25/09/2008, O País, p. 4

Número total de crianças trabalhando caiu de 5,1 milhões para 4,8 milhões

Cássia Almeida e Letícia Lins

RIO e RECIFE. O número de crianças que fazem trabalho infantil caiu de 5,1 milhões em 2006 para 4,8 milhões em 2007. Mas a situação já precária de algumas crianças ficou ainda pior. A Síntese de Indicadores Sociais pesquisou onde essas crianças de 5 a 17 anos estão trabalhando e constatou: aumentou a parcela de crianças e adolescentes de 10 a 17 anos trabalhando no domicílio do empregador, o que se aproxima do trabalho infantil doméstico. Em 2006, esses trabalhadores infantis representavam 9,1% das que trabalhavam - 445 mil crianças. No ano passado, a taxa subiu para 9,7%, com 455 mil trabalhadores.

Em casa, a situação também piorou: o número de crianças trabalhando passou de 289 mil para 300 mil.

Segundo Renato Mendes, coordenador do Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil da Organização Internacional do Trabalho (OIT), esse fenômeno está intimamente ligado aos processos de terceirização da economia formal, o que acaba provocando a informalidade dessas crianças tanto em casa como na casa do empregador. A família leva o trabalho para casa e a criança entra também no serviço, para aumentar a produção. No domicílio do empregador, o temor é o aumento do trabalho infantil doméstico:

- Essa informação é preocupante. Como o trabalho é dentro das casas, acaba não incomodando ninguém, como nas ruas. Tem que se pensar alternativas para que essas meninas não fiquem condenadas a um trabalho tão precário.

Este mês, o governo proibiu o trabalho doméstico para menores de 18 anos. Até então, era possível contratar meninas de 16 e 17 anos.

Na rua, onde a situação é mais precária, também houve aumento de 4% em 1997 para 4,3% no ano passado. É onde trabalha Rosiane Antônia dos Santos, de 13 anos. Chega a espantar a rapidez da menina. Ela vende verduras em uma feira popular no centro de Recife e atende aos clientes com rapidez impressionante. Manipula o facão para cortar o aipim, vende as mercadorias, passa troco, pesa os alimentos na balança de uma barraca vizinha. Ela tem uma jornada ampla: sai de casa, no violento bairro do Coque, às 4h da manhã e retorna às 22h com os pais. Tem um sonho na vida: estudar. Mas nunca pôs os pés na escola porque não tem tempo. Segundo a mãe da menina, a ambulante Rosângela Antônia da Silva, o trabalho da menina é necessário para o sustento da família.

- Ela é meu pé e minha mão. E aqui a gente trabalha de dia para comer de noite. Não temos nem o Bolsa Família. Se tivesse uma rendinha, punha ela para estudar.