Título: Os fichas-sujas pedem passagem, fique atento
Autor: Bottari, Elenilce; Lima, Ludmilla de
Fonte: O Globo, 05/10/2008, O País, p. 10

STF permitiu candidatura de pessoas que respondem a processos, apesar de os TREs terem tentado impedir

O ano que começou com a campanha do então presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), desembargador Roberto Wider, por eleições limpas acabou marcado pela presença de grupos armados - milicianos ou traficantes - que resolveram tentar tomar de assalto a Câmara de Vereadores ao impor seus candidatos a comunidades pobres.

Com a súmula vinculante do Supremo Tribunal Federal, que garantiu a participação de candidatos com antecedentes criminais, e os milhares de recursos que permitiram a participação de administradores com contas reprovadas ou processos por improbidade administrativa, a escolha de vereadores ficou ainda mais difícil.

A partir de denúncias de coação de eleitores e de candidatos que foram impedidos de fazer campanhas em favelas, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Carlos Ayres de Britto, solicitou a presença de tropas federais na cidade durante o período eleitoral. E é neste cenário de currais do crime em alguns locais da cidade, e de desconfiança sobre a moralidade de alguns candidatos, que os eleitores escolhem hoje os seus representantes.

Em levantamento feito com base apenas em recursos eleitorais de segunda instância e em vida pregressa já conhecida, O GLOBO descobriu 51 candidatos que respondem a processo ou já foram condenados por crimes como homicídio, roubo, furto, formação de quadrilha, tráfico de drogas e estelionato.

- Os eleitores tinham a expectativa de que a Justiça Eleitoral faria esta seleção. Agora cabe ao eleitor tentar conhecer a vida do candidato antes de votar. O eleitor deve levar em conta os antecedentes criminais e a história política dos candidatos - alerta o procurador regional eleitoral do Rio, Rogério Nascimento.

Instituições divulgam a lista dos fichas sujas

Para tentar evitar que maus políticos se reelejam ou garantam um mandato, instituições como a Associação de Magistrados Brasileiros divulgam a lista de candidatos que respondem a processos.

No estado, dos candidatos a vereador, três estão presos, entre eles, Carminha Jerominho (PTdoB), filha do vereador Jerominho, preso acusado de chefiar a milícia que atua em Campo Grande. Carminha é acusada de ter a campanha beneficiada pela milícia que atua na Zona Oeste.

Outro candidato preso é o vereador Edson da Silva Mota (PSL), o Mota da Copasa, de São Gonçalo. Entre os inquéritos a que responde, é suspeito de matar o presidente de uma cooperativa de vans em 2006. Candidato a vereador em Barra Mansa, Marcos Moreno Moreira (PR) foi preso em flagrante por tráfico de entorpecentes. Também responde por homicídio. Todos continuam concorrendo em grau de recurso.