Título: Crédito curto pode levar a fusões em construtoras
Autor: Doca,Geralda ; Barbosa, Flávia
Fonte: O Globo, 08/10/2008, Economia, p. 27

Crescimento menor da economia também afetará a capacidade das famílias de se endividar.

Altamente dependente de crédito e da renda dos trabalhadores, o setor da construção civil pode sofrer uma transformação em conseqüência da crise financeira mundial. Um movimento de fusões e aquisições é um cenário provável, na opinião de especialistas, principalmente para as empresas que acreditaram que os bons ventos do mercado imobiliário, com crédito farto e salário em alta, continuariam soprando.

Para quem tem planos de comprar imóvel financiado, as fontes de financiamento não devem secar, na opinião do consultor João Segreti. A caderneta de poupança, investimento garantido, tende a captar mais recursos, diante do medo de investimentos mais arriscados. Como os bancos privados são obrigados a destinar 65% da poupança para o crédito imobiliário, a fonte de recursos não seca, irrigada também pela Caixa Econômica Federal.

Para o consultor da Galanto, Marcos Valpassos, o fechamento das torneiras do financiamento já está afetando a saúde das empresas. E a correção do setor, as ações das construtoras caíram no mínimo 50% este ano, pode atrair compradores.

- Pode haver fusões para frente. Alguns empresas terão problemas de caixa, principalmente as que assumiram compromissos futuros.

Com o crédito para as empresas já diminuindo e a massa salarial, que deve subir a metade deste ano (este ano chegou a subir 7%), o cenário não é dos mais animadores.

- A base da construção vai ser prejudicada.

O momento é de ficar parado, diz executivo

Vice-presidente da RJZCyrela, Rogério Zylbersztajn, diz que é preciso "muita calma nessa hora e muito pé no chão", mas vê também oportunidades na crise:

- Não é a primeira crise por que passamos. E os investidores podem procurar ativos mais seguros se voltando para o setor imobiliário.

Vendo um Brasil melhor que em outras crises, como a da Ásia, Zylbersztajn diz que "o momento é de ficar parado". Com perfil conservador, o executivo diz que não assumiu compromissos além de sua capacidade. Sobre o crédito mais curto, diz que a empresa está estudando as alternativas.

- Agora, o caixa é o mais importante. Vamos esperar o que vai acontecer. Talvez adiar algum lançamento.

Presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), Rogério Chor, da CHL, também acredita num processo de fusões no mercado imobiliário.

- Os preços das ações estão caindo muito. Pode ficar interessante comprar.

Por enquanto, as vendas não mostram sinais de crise. A CHL vendeu em uma semana 530 apartamentos de R$240 mil, em média, de 800 postos à venda, bem no ápice da crise nas bolsas. A campanha do lançamento na Barra foi agressiva, com brinde de um carro na compra do imóvel. A oferta ainda está de pé, mas apenas para os próximos 70 compradores desse condomínio:

- As pessoas que já estavam planejando comprar um imóvel aproveitaram a promoção.