Título: Aprovação automática será abolida das escolas
Autor: Motta,Cláudio ; Berta, Ruben
Fonte: O Globo, 08/11/2008, O Globo, p. 18

Futura secretária de Educação, Cláudia Costin diz que conceito insuficiente, que pode reprovar aluno, voltará a ser adotado

Cláudio Motta e Ruben Berta

O conceito insuficiente (I), cuja retirada do boletim foi considerada por muitos como uma forma de impedir a reprovação dos alunos, deve voltar para avaliação dos alunos da rede municipal do Rio no ano que vem. A nova secretária de Educação, Cláudia Costin, anunciou ontem o fim da aprovação automática e afirmou que problemas de aprendizagem "não devem ser mascarados com eufemismos". Desde o ano passado, o prefeito Cesar Maia havia extinguido a nota, que foi substituída por "Registra Recomendações" (RR), conceito que, na prática, permitia que o aluno passasse de ano sem aprender.

Apesar de acenar com a mudança, Cláudia Costin não pretende acabar completamente com o sistema de ciclos, em que o aluno é avaliado em períodos de três anos. Desde 2000, a prefeitura do Rio tem implementado o primeiro ciclo. Em 2007, a política foi estendida às séries finais, o que causou reações. A secretária defende a manutenção do primeiro ciclo:

- É algo (o ciclo) que faz muito sentido nos primeiros anos, permitindo que o aluno tenha um tempo maior de aprendizagem durante o processo de alfabetização. O estudante não pode chegar aos 8 anos sem ler e escrever.

Sobre a volta do conceito de insuficiente, Cláudia disse que os alunos, nesta situação, terão tratamento especial.

- Se há problemas, eles precisam ser revelados para que pais, alunos, professores e a secretária possam agir. É preciso implantar a cultura de desempenho. Não podemos ser contra o termômetro - disse a futura secretária. - Da mesma maneira, que a aprovação automática é errada, seria errada a reprovação automática, que não é um instrumento de disciplina. Quando um aluno é reprovado, é sinal que o professor falhou.

O nome de Cláudia Costin para a pasta da educação foi anunciado ontem pelo prefeito eleito Eduardo Paes. Ex-ministra da Administração Pública do governo Fernando Henrique Cardoso, ela atualmente era vice-presidente da Fundação Victor Civita. Entre 2003 e 2005, foi secretária de Cultura de São Paulo, na gestão de Geraldo Alckmin. Ontem, ela disse que pretende investir na qualificação de professores, que poderão ganhar computadores portáteis.

Segundo futura secretária, professor não é coitadinho

Com essas medidas, Cláudia espera acabar com problemas como crianças de 10 anos que não conseguem ser alfabetizadas e alunos da 4ª série sem saber conceitos matemáticos.

- Não é necessário inventar a roda. O caminho é reforço escolar, garantir que os professores se capacitem. Os melhores sistemas públicos do mundo estão na Finlândia e na Coréia, que têm uma brutal capacitação de professores - afirmou. - Professor não vai ser tratado nem como coitadinho nem como missionário, como herói.

Ela também reafirmou o compromisso de triplicar o número de creches para crianças de zero a três anos. E com a universalização da pré-escola, que atende alunos de 4 e 5 anos.

- O maior desafio é a aprendizagem das crianças. Por que uma cidade que tem tantos mestres e doutores da qualidade não consegue fazer um Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica aferido pelo Ministério da Educação) compatível com os de países desenvolvidos? - afirmou Cláudia.

Em 2007, o Ideb do Rio, nas séries iniciais, foi de 4,5 e o projetado para o ano que vem, 4,6.

A Secretaria municipal de Educação deverá firmar convênios com universidades para a capacitação dos professores da rede municipal.