Título: Complicado, diretor devolve apartamento
Autor: Colon, Leandro; Rocha, Marcelo
Fonte: Correio Braziliense, 13/03/2009, Política, p. 02

João Carlos Zoghbi admite que usou imóvel funcional irregularmente enquanto morava numa luxuosa casa no Lago Sul. Heráclito Fortes investiga o caso e servidor pode até perder o cargo

A situação do diretor de Recursos Humanos do Senado, João Carlos Zoghbi, se complicou ainda mais ontem. O servidor admitiu, em nota divulgada à imprensa, que repassou a familiares um apartamento funcional de 180 metros quadrados na Asa Norte e, pressionado, anunciou a devolução do imóvel sob sua responsabilidade desde 1999. Há 15 anos no comando do setor de pessoal, área responsável por uma folha de pagamento de R$ 2,1 bilhões anuais, Zoghbi está na corda bamba desde outubro do ano passado, quando foi obrigado a exonerar a mulher e dois filhos de cargos de confiança do Senado após decisão judicial contra o nepotismo.

Zoghbi confirmou que comprou uma casa na QI 25 do Lago Sul quando seu filho Ricardo ainda era adolescente. Segundo o servidor, foi prestado um ¿auxílio financeiro¿ ao então garoto. O problema é que o diretor do Senado admitiu que morou na residência no mesmo período em que possuiu o imóvel do Senado, conforme revelou ontem a reportagem do Correio. Dentista, Ricardo, aliás, foi um cigano nos gabinetes da Casa nos últimos quatro anos. Passou pela Segunda Vice-Presidência, depois foi lotado na Quarta-Secretaria, no Conselho Editorial, na liderança do PDT, e, por último, no gabinete do senador Delcídio Amaral (PT-MS). Perdeu o cargo em outubro do ano passado.

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e o primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), não estão dispostos a sustentar Zoghbi no comando de Recursos Humanos, principalmente depois que o servidor admitiu ter disponibilizado o apartamento para familiares, enquanto permaneceu vivendo no Lago Sul. ¿Devido a problemas familiares ocorridos, por um período, a ocupação do imóvel funcional se restringiu a parte da família¿, disse o diretor, por meio de nota oficial, sem contar muitos detalhes sobre quem viveu no imóvel no período. Ontem, a reportagem revelou que, além dos filhos, uma ex-nora já residiu no apartamento. Vizinhos contam também que, nas últimas semanas, material de decoração, como luxuosos tapetes, foi entregue na propriedade funcional.

Incômodo O conteúdo da manifestação por escrito divulgada por Zoghbi causou constrangimento entre os senadores, incomodados com as rotineiras denúncias de irregularidades na área administrativa. Ao devolver o imóvel, o diretor apenas se antecipou a uma decisão que já havia sido tomada por Heráclito Fortes na manhã de ontem: retirar o apartamento das mãos de Zoghbi. O episódio só aumentou a pressão pela exoneração do diretor nos próximos dias. Com o apoio de parlamentares do PMDB, o servidor trabalhava para substituir Agaciel Maia, que deixou a diretoria-geral na semana passada. Agora, tenta, no máximo, se manter no cargo de comandante dos Recursos Humanos.

Indagado sobre o uso irregular de um apartamento funcional por um servidor do alto escalão, o presidente José Sarney não escondeu o incômodo. ¿Não tenho que saber se alguém ocupa ou não apartamento, isso tem que ser perguntado ao diretor-geral¿, afirmou à tarde, depois de desabafar pela manhã: ¿Acho que aqui há uma transparência total. Nós somos hoje o grande alvo. Somos o boi de piranha¿. Logo cedo, Zoghbi tentou uma audiência com Sarney, mas não foi recebido. O senador pediu para Heráclito Fortes investigar a responsabilidade do diretor de Recursos Humanos nesse novo episódio. O parlamentar do Piauí ouviu Zoghbi na terça-feira. Mas não se convenceu. Pretende ter uma nova conversa com o diretor, além de pedir para ele responder a um questionário.