Título: Indústria demite para enfrentar crise
Autor: Pires, Luciano; Mendes, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 13/03/2009, Economia, p. 11

Enxugamento de pessoal e dispensa de terceirizados são estratégias de sobrevivência em meio à retração

Pessimista em relação ao futuro, a indústria brasileira planeja enxugar ainda mais seus quadros para enfrentar a crise econômica. Demissões de funcionários e a suspensão de serviços terceirizados são duas das saídas consideradas inevitáveis na avaliação de 36% das companhias ouvidas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), conforme consulta empresarial divulgada ontem. O levantamento, realizado entre os dias 4 e 11 de março, envolveu 431 firmas de grande, médio e pequeno portes espalhadas pelo país, inclusive no Distrito Federal, e mostra qual é o sentimento de 30 setores industriais.

Na consulta, os empresários responderam de que forma estão enfrentando ou pretendem enfrentar os efeitos da turbulência na economia. Entre as que responderam a pesquisa, 83% informaram que os impactos da crise respingaram nos negócios, enquanto que 55% apontaram que esses reflexos pioraram neste primeiro trimestre. Ainda de acordo com o estudo, 54% dos empresários disseram ter adotado medidas amargas em relação à força de trabalho contratada, 39% acreditam que as ações de governo não surtem efeito e 47% informaram não acreditar em recuperação antes de 2010.

Para a grande maioria, a solução é reduzir tributos, juros e o spread bancário. Armando Monteiro Neto, presidente da CNI, disse que as companhias estão se ajustando a uma nova realidade. Segundo ele, haverá uma melhora em relação ao trimestre anterior, mas não muito grande. ¿As empresas estão olhando seus negócios com mais pessimismo. As expectativas poderão se deteriorar¿, explicou. A expectativa da CNI é que o Brasil sentirá em menor escala os impactos negativos da crise, o que não elimina a possibilidade de estagnação do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). ¿A teoria do descolamento do Brasil em relação ao mundo é frágil. O Brasil sentirá menos, mas isso pode significar crescimento zero¿, advertiu Monteiro Neto.

O maior desafio é recuperar o emprego industrial. Ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o mercado de trabalho nas fábricas, em janeiro, caiu pelo quarto mês consecutivo, desta vez -1,3%. Ramos como meios de transporte, máquinas e equipamentos, vestuário e madeira fecharam vagas. Denise Cordovil, economista do IBGE, justificou que a queda no emprego é uma resposta imediata à piora do cenário econômico. ¿Setores que são intensivos em mão-de-obra continuam sofrendo bastante¿, resumiu. Em linha com o IBGE, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) informou que de outubro de 2008 a fevereiro deste ano 236,5 mil trabalhadores foram demitidos pela indústria paulista.

Ipea Os empresários estão apreensivos quanto aos rumos da economia em 2009. O desempenho ¿ capacidade produtiva, contratações, produtividade, demanda e margem de lucro ¿ é o aspecto mais preocupante, conforme outro indicador divulgado ontem. O Sensor Econômico, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), avaliou a expectativa socioeconômica do setor produtivo do país em fevereiro. O levantamento revela um quadro adverso para o emprego ao longo do ano, com redução no número de funcionários entre 0,1% e 3%. O aspecto social ¿ massa salarial, pobreza, desigualdade e violência ¿ manteve-se em fevereiro na expectativa também de um quadro adverso.

De acordo com o Ipea, aumentou a apreensão dos segmentos econômicos em relação à demanda. A expectativa de crescimento está entre zero e 2% para os próximos 12 meses, e a redução na utilização da capacidade instalada, entre janeiro e fevereiro, entre 70% e 80%. Espera-se um cenário sombrio também para as finanças das empresas e para as margens de lucro para os próximos 12 meses. Com relação aos parâmetros econômicos, a conjuntura é menos turbulenta. A expectativa do empresariado brasileiro é de taxa de câmbio estável, com variação nominal entre 0% e 4% em 12 meses, nenhum crescimento da inflação e queda na taxa de juros entre 0,5% e 3%.