Título: Crescimento deve ser retomado no 2º semestre
Autor: Batista, Henrique Gomes; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 18/01/2009, Economia, p. 29

Para analistas, taxas baixas reanimariam investimento produtivo.

BRASÍLIA. Para economistas do setor produtivo, o Banco Central precisa fazer agora um corte maior na taxa de juros, para que o país possa garantir uma recuperação econômica ainda no segundo semestre. Além disso, uma redução mais efetiva da Taxa Selic acabaria com dúvidas dos investidores, que muitas vezes deixam de aplicar recursos em atividades produtivas, por verem o governo dividido entre incentivar o consumo e adotar uma política monetária restritiva, com juros elevados, motivada pelo temor de alta na inflação.

- Uma redução forte, de um ponto na Selic, seria um sinal claro de que todo o governo está unido no objetivo de fazer com que a economia se recupere no segundo semestre, após uma primeira metade de ano que será difícil - afirmou o economista Rogério Cesar Souza, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

O professor Antônio Corrêa de Lacerda, da PUC-SP, porém, está cético. Ele acredita que o conservadorismo vai prevalecer mais uma vez no BC, que deve cortar a Selic em 0,5 ponto:

- Com os dados de inflação e da atividade econômica, poderia, porém, ser feito um corte muito maior, um choque de 1,5 ponto percentual.

Para Lacerda, a recente discussão entre o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, mostra como o debate está equivocado. Em uma reunião com empresários, Meirelles acusou o banqueiro de brigar por uma Selic mais baixa, enquanto mantém o spread (diferença entre o custo de captação do dinheiro e os juros cobrados dos clientes finais) elevado.

- Selic alta incentiva spread alto, uma vez que o risco relativo do empréstimo sobe, se comparado com o ganho que os bancos têm com títulos públicos - disse Lacerda.

Mas há quem defenda um corte considerado "conservador", de apenas 0,5 ponto percentual. É o caso da economista-chefe do ING, Zeina Latif:

- Apesar do desconforto, acredito que o corte deve ser de 0,5 ponto percentual. O BC deve fazer um processo gradual de redução da taxa, pois ainda há muitas incertezas no mercado.

O professor Fábio Kanczuk, da USP, rebate e diz que a projeção futura da inflação caiu, o que descartaria a opção do gradualismo. Ele reduziu as expectativas para o IPCA de 2009 de 5,5% para 4%.

- Estou surpreso com o comportamento da inflação, que não está absorvendo a elevação da cotação do dólar. (Henrique Gomes Batista)

R$5 MILHÕES EM BALAS JUQUINHA, na página 30

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