Título: Uma campanha movida a barganhas e traições
Autor: Lima, Maria; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 01/02/2009, O País, p. 9

ELEIÇÃO NO LEGISLATIVO: Ex-presidente nega que disputa entre PT e PMDB vá deixar sequelas na base do governo Lula.

No Senado, tanto Sarney quanto Viana dizem que podem alcançar 45 votos, mas 20 senadores estão nas listas de ambos.

BRASÍLIA. Numa eleição marcada por barganhas de cargos, traições, negociações e reviravoltas, os novos presidentes do Senado e da Câmara para os próximos dois anos serão escolhidos amanhã num clima de total indefinição. Com a disputa acirrada na duas Casas, na reta final, os candidatos tiveram que ceder a alianças inusitadas.

O PSDB está apoiando o maior adversário de José Serra em 2010, o PT; e o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), que saiu do Palácio do Planalto criticado pelo sucessor Fernando Collor (PTB-AL), garantiu-lhe o cargo de presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE) em troca de apoio do PTB. Na Câmara, 14 partidos - aliados e de oposição, e com interesses variados e divergentes - sustentam a candidatura de Michel Temer (PMDB-SP).

A contabilidade de todos os candidatos, na Câmara e Senado, aponta para suas próprias vitórias. No Senado, levantamento feito pelo GLOBO, com base em informações dos líderes partidários e dos comandos das campanhas de Sarney e de Tião, indica que cerca de 20 senadores, do total de 81, são votos considerados incertos e constam das listas dos dois candidatos. São considerados eleitores certos de Sarney 37 senadores. Os votos para Tião somam 24. Tanto Sarney como Tião dizem não acreditar em traições.

Ontem, a equipe de Sarney terminou o dia contabilizando pelo menos 45 votos. Já os aliados do petista também falavam numa escala de 39 a 45 votos.

Na Câmara, onde são necessários 257 votos para eleger o presidente no primeiro turno, os articuladores de Temer dizem que o Blocão de 14 partidos lhe garantirá 340 votos. Seu principal adversário, Ciro Nogueira (PP-PI), aposta no segundo turno. Ele diz que terá entre 180 e 220 votos e prevê o mesmo para Temer. Para Aldo Rebelo (PCdoB-SP), de 100 a 120 votos. E para Osmar Serraglio (PMDB-PR), de 40 a 60, o que jogaria a disputa para o segundo turno.

No Senado, Sarney, ao contrário do que desejava, teve que se envolver numa guerra voto a voto para impedir que aconteça o que mais teme: um ex-presidente da República, presidente do Senado duas vezes, perder para Tião Viana (PT-AC), dividindo a base governista do presidente Lula, de quem tem sido um dos principais conselheiros. Sarney minimiza o risco de a eleição deixar sequelas sérias na relação entre PMDB e PT:

- O PMDB apenas resolveu exercer o seu direito de disputar o comando do Senado por ter a maior bancada da Casa.

Para não ceder mais de um cargo na Mesa para o PSDB, com o qual nunca teve boas relações, Sarney viu escapar o apoio dos tucanos. E Viana, da ameaça de passar por um fiasco, passou a vislumbrar a possibilidade de vitória. Tucanos instalaram um quartel-general no Senado, sexta-feira à noite, e prometiam brigar para dar a vitória a Viana.