Título: Muita promessa para pouco cargo
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 04/02/2009, O País, p. 3

O FUTURO REPETE O PASSADO

Sarney agora terá de arbitrar disputa pelos cargos da Mesa e pelas comissões

Os acordos que asseguraram a eleição de José Sarney (PMDB-AP) para a presidência do Senado acabaram produzindo uma espécie de overbooking na Mesa Diretora da Casa. Para conquistar o apoio do PR, por exemplo, os coordenadores da campanha de Sarney prometeram até o que não tinham: ofereceram a 4ª secretaria da Mesa, atropelando o PDT, que pela regra da proporcionalidade (tamanho dos partidos) teria direito ao cargo. Indignado, o líder pedetista Osmar Dias (PR) ameaçava ir ao Supremo Tribunal Federal. Para evitar que o confronto - marcado por bate-boca, gritaria e ofensas - se transferisse para o plenário, Sarney adiou para hoje a eleição do cargo e das quatro suplências da Mesa, e deverá arbitrar a disputa.

Foram eleitos ontem apenas os cinco candidatos à Mesa escolhidos por consenso, aprovados em votação única com 71 votos a favor e apenas seis contra. Marconi Perillo (PSDB-GO) vai para a primeira vice-presidência e Serys Slhessarenko (PT-MT), para a segunda vice. A petista acabou se livrando de disputar com o colega Delcídio Amaral (PT-MS), que desistiu mesmo já tendo o apoio do PMDB.

A bancada do Piauí não tem do que se queixar: foi 100% contemplada. Seus três senadores ocuparão três secretarias: Heráclito Fortes (DEM) ficou com a 1ª , João Vicente Claudino (PTB) com a 2ª e Mão Santa (PMDB) com a 3ª .

- Só deixamos o Sarney ser presidente porque o pai dele é do Piauí - provocou Mão Santa.

Sob a ameaça de também ter de enfrentar no voto aliados de Sarney na disputa pelo comando das comissões permanentes, o PT trabalha por um acordo entre PR e PDT pelo último cargo da Mesa. O líder petista, Aloizio Mercadante (SP), espera convencer o PR a ficar com uma das suplências a que o PT teria direito na Mesa.

A briga se deve mais aos 12 cargos comissionados que os integrantes da Mesa têm direito de nomear do que aos poderes dos secretários. O 4º secretário, por exemplo, tem a atribuição de fazer a chamada dos senadores, contar votos em verificação de votação e auxiliar o presidente na apuração das eleições. Osmar Dias diz que o interesse do PDT é garantir o respeito à proporcionalidade.

Expedito Júnior (PR-RO) alega que PDT e PR tinham o mesmo número de senadores no início da legislatura - quatro - e, portanto, seu partido teria direito à vaga. O PDT cresceu, em 2008, com o ingresso de Patrícia Saboya, sua candidata ao cargo. Além da disputa entre partidos, não há no PR consenso sobre o candidato numa eventual eleição: Magno Malta (ES) e César Borges (BA) pleiteiam a vaga.

O clima de confronto pode contaminar a disputa pelas comissões permanentes. PMDB e DEM se acertaram: o primeiro ficará com a Comissão de Assuntos Econômicos, para Garibaldi Alves (RN), e o segundo, com a de Constituição e Justiça, com Demóstenes Torres (GO). Já PSDB e PT, que apoiaram o petista Tião Viana (AC), correm o risco de disputar com aliados de Sarney. Os tucanos reivindicam a Comissão de Relações Exteriores para Eduardo Azeredo (MG), mas o PTB quer lançar o ex-presidente Fernando Collor. Ideli Salvatti (PT-SC) poderá enfrentar o PMDB para se eleger presidente da Comissão de Infraestrutura.

Sarney confirmou o corte de 10% no orçamento de quase R$2 bilhões este ano. A primeira medida foi anunciada por Heráclito Fortes: será suspensa a licitação para renovar o mobiliário dos 81 gabinetes da Casa, que consumiria cerca de R$2 milhões.