Título: Obama quer poder para intervir
Autor: Allan, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 25/03/2009, Economia, p. 16

Governo americano tenta aprovar lei que permite atuação em instituições financeiras não bancárias. Proposta é criar uma agência destinada a agir em companhias com problemas patrimoniais insolúveis

Depois de fracassar em diversas tentativas de conter a sangria no sistema financeiro, o governo dos Estados Unidos vai apelar agora para a concentração de poderes. O presidente Barack Obama pediu ontem ao Congresso a aprovação de uma lei, permitindo que as agências reguladoras intervenham em instituições financeiras não bancárias à beira da falência. Além de Obama, o apelo foi feito pelo secretário do Tesouro, Timothy Geithner, e o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central do país), Ben Bernanke. Eles garantiram que, se essa permissão existisse, poderiam ter evitado o derretimento das contas da seguradora AIG, que continua apresentando prejuízos multibilionários mesmo após ter recebido US$ 180 bilhões em dinheiro público.

¿Na ausência dessa autorização, acabamos na situação em que nos encontramos: com uma instituição que apresenta um risco para o sistema e na incapacidade de fechá-la para renegociar os contratos¿, afirmou o presidente, após reunião com o primeiro-ministro australiano, Kevin Rudd.

Em audiência no Comitê de Finanças do Senado, Geithner e Bernanke defenderam a intervenção em companhias que, por seu tamanho e número de conexões, apresentem um risco de quebradeira em série caso cheguem à falência. Essa possibilidade já existe em relação aos bancos, mas o governo tem preferido capitalizá-los, em troca de uma participação acionária minoritária. O Tesouro já gastou cerca de US$ 400 bilhões com essa política, mas os problemas permanecem.

Na visão de Geithner, governo e Congresso devem trabalhar juntos reformar a regulação, eliminando as falhas de supervisão. ¿Todas as instituições e mercados que podem apresentar um risco sistêmico devem estar sujeitas a uma rígida supervisão, incluindo as travas adequadas para a tomada de riscos¿, disse.

A ideia é criar uma nova agência federal com poder de intervir em companhias com problemas patrimoniais insolúveis, liquidando-as. ¿A AIG trouxe à luz a urgente necessidade de novos procedimentos de liquidação para as sociedades financeiras não bancárias¿, disse Bernanke.

Num discurso seguido de entrevista coletiva, ontem, Obama pediu o apoio da sociedade e do Congresso à proposta de Geithner e Bernanke. ¿Foi por falta dessa legislação que a AIG teve tantos problemas. A alternativa é deixar essas instituições recebendo recursos públicos sem que as mudanças necessárias sejam feitas¿, disse. Ele fez um balanço das medidas tomadas para combater a crise, defendeu seu orçamento de US$ 3,55 trilhões e previu dias melhores. ¿Implantamos uma estratégia ampla para atacar essa crise em todas as frentes. E estamos começando a ver sinais de progresso.¿ Obama apelou pela compreensão dos americanos. ¿Vamos nos recuperar dessa recessão, mas levará tempo e precisamos ter paciência.¿

EUA propõem ação única ao G-20

O presidente Barack Obama defendeu ontem a adoção de uma estratégia única dos líderes políticos na próxima reunião de cúpula do G-20, grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo. A intenção é encontrar terreno comum para a recuperação econômica internacional e a regulamentação dos instrumentos financeiros. O apelo ao trabalho coordenado foi feito num artigo publicado em 31 jornais de diversos países e reiterado num discurso à noite, transmitido pela TV.

¿Estamos vivendo uma época de desafios econômicos mundiais que não podem ser enfrentados com meias-medidas ou com esforços isolados de uma única nação. Agora, os líderes do G-20 têm a responsabilidade de adotar uma ação corajosa, geral e coordenada que não apenas impulsione a recuperação, mas que lance uma nova era de compromisso econômico para impedir que uma crise como esta volte a ocorrer¿, afirmou Obama no artigo. O encontro de cúpula será na semana que vem, em Londres, Inglaterra.

O presidente defendeu uma maior regulação sobre o capital e mais transparência, assim como medidas para acabar com os paraísos fiscais. ¿Se continuarmos deixando que as instituições financeiras do mundo atuem de forma irresponsável, terminaremos presos num ciclo de bolhas e estouros¿, alertou. ¿Nossas instituições financeiras, em Wall Street e no mundo, precisam de uma forte supervisão e regras que façam sentido.¿

No artigo, Obama defendeu a adoção de medidas para estimular o crescimento, principalmente de estímulos fiscais. O segundo passo seria a restauração do crédito para as empresas e os consumidores. O terceiro seria ¿estender a mão¿ aos países e pessoas que mais estão sofrendo com a recessão mundial. ¿Juntos, nós podemos aprender as lições dessa crise e forjar uma prosperidade duradoura e segura para o século 21¿, encerrou. (RA)

-------------------------------------------------------------------------------- FMI acata ideia do país

Edna Simão Da equipe do Correio

O Fundo Monetário Internacional (FMI) mudou as regras para liberação de empréstimos com o objetivo de socorrer com maior rapidez os países que passam por dificuldades em honrar seus compromissos. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemorou as alterações, mas já avisou que o país não precisa dessa ajuda financeira. ¿Eu diria que é praticamente uma vitória do Brasil¿, afirmou o ministro, que apresentou a proposta para criação de uma linha semelhante em reunião do FMI, realizada em abril de 2008.

Na Linha de Crédito Flexível, os países poderão pegar empréstimos sem ter que cumprir critérios de monitoramento ou qualquer tipo de meta e, muito menos, apresentar cartas de intenção como acontecia no passado. Esse empréstimo tem taxa de juros mais atrativa (entre 1,5% e 3% ao ano) e maior prazo de pagamento (de 3,5 anos de carência e cinco anos para pagar).

¿O Brasil não está precisando (desse empréstimo). Estamos pensando nos outros países que precisam de liquidez neste momento. Essa linha vai facilitar ao país reativar o seu comércio, reativar investimentos e cobrir suas contas externas¿, ressaltou. Assim como em outras ocasiões, o ministro reforçou a necessidade de aporte entre US$ 500 bilhões e US$ 1 trilhão no FMI para ajudar os países em dificuldades financeiras.