Título: Pai diz que Paula não vai fugir da Suíça: Sairemos de cabeça erguida
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 17/02/2009, O País, p. 8

Embora tenha comprado passagem, família alega que a viagem foi suspensa.

ZURIQUE. Paulo Oliveira, o pai de Paula Oliveira, a pernambucana de 26 anos que alega ter sido torturada segunda-feira passada por neonazistas perto de Zurique, na Suíça, disse ontem que sua filha não tem motivo para fugir. Oliveira se referia aos rumores de que a família já prepara a volta da advogada ao Brasil. Segundo o pai, Paula é livre, tanto para sair ou ficar no país.

- Nós não temos motivo, nem temos do que fugir. Sairemos de cabeça erguida, pela porta por onde entramos. Minha filha é vítima desta tragédia.

A polícia de Zurique decretou sigilo total na investigação, como exige a lei do país. A brasileira continuava ontem internada com o corpo marcado por "um objeto cortante" - violência que ela diz ter sido produzida por neonazistas. Segundo o pai, ela estava tomando morfina. Quanto à hemorragia que estaria sofrendo há dias, o pai reconheceu, em conversa com jornalistas, que é menstruação.

A brasileira contou para a polícia que abortou num banheiro público de uma gravidez de três meses de gêmeos, depois de ser golpeada na barriga pelos agressores. Mas, num resultado preliminar divulgado na sexta-feira, a polícia praticamente desmonta a versão, dizendo que ela não estava grávida no momento da presumível violência, e que ela teria se autoflagelado.

O pai confirmou que Paula tinha uma passagem comprada com destino ao Brasil para antes do carnaval. Ela iria apresentar o namorado, Marco Trepp, à família. Mas depois que o caso estourou, tudo ficou em aberto. Perguntado sobre uma possível volta ao Brasil, o pai respondeu:

- Essa é decisão dela, depois que os médicos decidirem se pode deixar o hospital.

- Ela é livre, então, para sair para o Brasil, se quiser? - insistiram os jornalistas.

- Todos nós somos livres para ir e vir. Ela tem residência fixa aqui na Suíça, tem permissão para morar e trabalhar, tem um emprego e não provocou distúrbio público, dano ao patrimônio, nem sequer deixou de pagar uma viagem de bonde.

O pai insistiu que "ela é livre para fazer o que quiser".

- Depois de uma tragédia, qualquer pessoa precisa se afastar para se refazer. E isso é recomendação médica, não é um comportamento de quem quer fugir de alguma coisa. Acho que, para a família, é melhor que ela esteja entre os seus. Mas ela é que decide para onde quer ir.

Em Brasília, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que, independentemente dos desdobramentos do caso, a obrigação do governo brasileiro é protegê-la:

- Vamos dar toda atenção possível a ela. Isso é o que temos feito e é isso que vamos continuar a fazer de maneira serena e tranquila.

Amorim disse esperar que a investigação ocorra dentro da legalidade:

- A única coisa que nós pedimos foi que houvesse uma investigação correta.

COLABOROU: Eliane Oliveira