Título: Para Lula, é chique emprestar dinheiro ao FMI
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Fonte: O Globo, 03/04/2009, Economia, p. 21

Bem-humorado, presidente confirma aporte de recursos ao Fundo, mas não revela valor

LONDRES e SÃO PAULO. Após um encontro histórico, que marcou o lugar do Brasil no G-20 (grupo de países ricos e principais emergentes), novo fórum mundial de decisões, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou que o Brasil vai se tornar, pela primeira vez, credor do Fundo Monetário Internacional (FMI).

- Gostaria de passar para a História como o presidente que emprestou alguns reais para o FMI - disse um descontraído Lula, que deixou a reunião do G-20 com o prestígio em alta. - Você não acha chique emprestar dinheiro para o FMI? E eu, que passei parte da minha juventude carregando faixa em São Paulo: "Fora FMI!".

Mas nem Lula nem seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, revelaram quanto será colocado no Fundo.

- Estamos esperando para ver quanto os chineses vão colocar - disse Mantega.

Um jornalista lembrou que a China já anunciou US$40 bilhões. Mantega deixou claro que a quantia brasileira será bem menor:

- O Brasil não tem as reservas da China. Se tivesse US$2 trilhões de reserva, colocava mais de US$40 bilhões.

O Brasil deverá usar parte das reservas para comprar bônus do FMI, no lugar dos títulos do Tesouro americano, por exemplo. Desse modo, o governo não gastará as reservas, apenas diversificará sua aplicação, ajudando a liquidez internacional.

- Mas não é uma modalidade comum. Vamos olhar com calma as regras. O Japão está fazendo agora aplicação em bônus: queremos estudar como isso é classificado como reserva, qual o período de aplicação, as taxas de juros - disse Mantega.

Lula diz que reunião do G-20 marcou mudança de postura

Já o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, disse ontem em São Paulo, que a área econômica do governo já estuda de onde virão os recursos prometidos ao FMI e deu a entender que o dinheiro deve sair das reservas internacionais, hoje de US$205 bilhões.

- Vamos verificar (de onde sairá os recursos). O importante é que o Brasil tem recursos, tem reservas internacionais elevadas.

Lula também ressaltou o aspecto político da medida:

- A gente se queixa que os países ricos querem mandar no FMI e no Banco Mundial. Lógico! Só entramos lá como pedintes. Temos que colocar nossa fatia para podermos exigir.

Para Lula, a reunião do G-20 marcou uma mudança histórica. Segundo ele, em seis anos de reuniões com chefes de Estado nunca tinha visto países ricos e em desenvolvimento em pé de igualdade.

- Foi a primeira reunião de que participei em que não tinha ninguém sabendo de tudo, como se nós não soubéssemos de nada - disse Lula.

O ministro Mantega comparou a reunião à Bretton Woods e disse que os países deixaram de lado ideologias e doutrinas, para adotar uma postura pragmática. Mantega disse que se tivesse vivo John Keynes - o economista britânico que pregou intervenção do Estado na economia - se espantaria com o nível de intervenção do Estado que os líderes defenderam no G-20:

- Pode nascer uma nova ordem mundial. Todos nós nos tornamos pós-keynesianos.

COLABOROU Lino Rodrigues