Título: PF omitiu PT de investigação sobre doações
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Fonte: O Globo, 31/03/2009, O País, p. 10

Relatório da Castelo de Areia não cita diálogo em que petistas, além de PV e PTB, são citados como beneficiários

SÃO PAULO. A Polícia Federal omitiu do relatório final da Operação Castelo de Areia as siglas de três partidos ¿ PT, PTB e PV ¿ citados em uma conversa por-email entre Fernando Dias Gomes, diretor da Camargo Corrêa, e Luiz Henrique Maia Bezerra, segundo reportagem do ¿Jornal Nacional¿, da Rede Globo.

De acordo com a própria polícia, Bezerra é um dos intermediários de doações da construtora para políticos.

Na correspondência eletrônica de novembro do ano passado, o diretor cobra de Bezerra os recibos pendentes das seguintes doações: PSDB, comitê financeiro de São José dos Campos, 50 mil; PSDB, 50 mil; PT, diretório regional, 25 mil; PTB, comitê financeiro municipal, 25 mil; e PV, comitê financeiro municipal, 25 mil.

No entanto, o documento da PF que embasou os pedidos de prisão decretados pelo juiz da 6aVara Criminal Federal, Fausto De Sanctis, não cita PT, PTB e PV como possíveis beneficiários do esquema descoberto na operação.

Ao justificar a omissão, a Polícia Federal alegou que esses três partidos foram citados num contexto em que se fala sobre recibos de doações, o que teria levado ao entendimento de que seriam repasses dentro da lei. ¿É impossível afirmar só com os dados atuais a ilegalidade dessas operações¿, escreveu o delegado Otávio Russo, que assina o relatório final.

Relatório cita sete partidos com doações suspeitas O documento da Polícia Federal citava apenas sete partidos com supostos beneficiados pelas operações ilegais: PSDB, DEM, PPS, PP, PSB, PDT e PMDB. As direções de todos os partidos, porém, negam ter recebido doações ilícitas. Os senadores José Agripino Maia (DEM-RN) e Flexa Ribeiro (PSDB-PA), citados no relatório da PF, divulgaram recibos comprovando doações legais feitas pela Camargo Corrêa.

Apontado como um dos intermediários do esquema que fazia chegar dinheiro ¿ao povo de Brasília¿, Luiz Henrique Bezerra Maia ¿ representante da Federação das Indústrias d o E s t a d o d e S ã o P a u l o (Fiesp) na capital federal ¿ é filho de Valmir Campelo Bezerra, ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). O diretor da Fiesp se casou no sábado, em Brasília, numa festa repleta de convidados ilustres, como o vice-presidente da República José Alencar, um dos padrinhos.

O PV e o PTB informaram ao ¿Jornal Nacional¿ que as doações da Camargo Corrêa foram devidamente registradas; já a direção nacional do PT declarou que não responde pelos diretórios regionais, como o que apareceu na reportagem, sem identificação do estado.

O partido tem 27 diretórios regionais.

Ainda segundo o ¿Jornal Nacional¿, um relatório de 2 a 16 de outubro de 2008 cita doações para dois políticos tucanos. Um dos telefonemas gravados se refere a uma doação para o deputado Arnaldo Madeira (SP), no valor de R$ 25 mil. Outro deputado do PSDB, Mendes Thame (SP), teria recebido R$ 50 mil. Os dois foram eleitos deputados federais pelo PSDB em 2006, dois anos antes do diálogo gravado. Os deputados disseram que não receberam doações da Camargo Corrêa.

Transcrição de conversa omite verbo A polícia também omitiu uma palavra na transcrição de um diálogo de dois diretores da empreiteira interceptado pela Justiça. A transcrição informa: ¿Tem aquela pasta de eleições, a relação inclusive...a colaboração oficial¿.

Um verbo não foi transcrito na frase: ¿a colaboração foi oficial¿. Segundo a PF, essa omissão não foi intencional e não modifica o sentido da conversa, ¿que deixa dúvida sobre a legalidade das doações¿.

Ontem, o senador Agripino Maia mostrou recibos de doações da Camargo Corrêa para o partido. Segundo ele, os recibos serão entregues esta semana à Justiça Eleitoral.

¿ A tentativa foi de denegrir minha imagem com falsidade ¿ disse ele.