Título: O candidato da terceira via
Autor: Pereira, Alessandra
Fonte: Correio Braziliense, 22/03/2009, Política, p. 7

Para escapar da polarização entre petistas e tucanos, setores políticos paulistas pensam em articular a candidatura do presidente da Fiesp ao governo do estado. PSB seria legenda provável

paulo Skaf não fala sobre o assunto, mas interlocutores do empresário dizem que ele vem sendo assediado São Paulo ¿ Enquanto PT e PSDB concentram forças nos preparativos para a corrida presidencial de 2010 e discutem, em nível estadual, quem afinal, entre seus quadros, terá potencial para ganhar nas urnas a cadeira do governador paulista, José Serra (PSDB), outros grupos começam a tentar articular alternativas para a polarização constante entre as duas legendas no estado mais rico do país. Cansados de assistir às forças políticas reunirem-se, eleição após eleição, em torno de petistas ou de tucanos, setores do empresariado e legendas com representatividade, mas menor densidade eleitoral, estariam pensando na possibilidade de dar lastro ao projeto de fazer do atual presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, candidato ao governo paulista no ano que vem.

Skaf não fala no assunto, mas tem pretensões políticas conhecidas. Interlocutores próximos dizem que o empresário vem sendo assediado como um nome forte para ser a terceira via no processo da sucessão estadual paulista. Para isso, se filiaria ao PSB do deputado Márcio França, e poderia formar um bloco de apoio com PP, PCdoB, PDT e PR, siglas que ainda não discutiram o assunto internamente.

As conversas com o PSB estão em estágio adiantado. No entanto, segundo pessoas próximas ao empresário, Skaf teria convites para estudar também outras alternativas de porta de entrada na política. Poderia participar do projeto do PSDB, lançando-se para uma vaga no Legislativo ano que vem. E estaria sendo sondado até mesmo como uma muito distante, mas não impossível alternativa, de ser vice na chapa petista para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, ao que tudo indica, será encabeçada pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Nesta hipótese, a tentativa seria repetir a trajetória bem-sucedida do também empresário e vice-presidente José Alencar, na dobradinha com Lula.

Fama de bom gestor Amigos de Paulo Skaf dizem que ele não é homem talhado para o Legislativo, mas construiu sua carreira deixando fama de bom gestor por onde passou, seja como empresário, seja como dirigente sindical. Dois de seus interlocutores dizem que o presidente da Fiesp estaria pronto para o desafio de governar, o que deixa transparecer a preferência pela candidatura ao Palácio dos Bandeirantes, sede da administração paulista.

Oficialmente, petistas e tucanos não falam no assunto. Apenas observam a movimentação do empresário que tem procurado dar visibilidade positiva à gestão na presidência da Fiesp em ano de crise econômica internacional. Um deputado petista, no entanto, lembra que a tentativa mais parece uma ¿estratégia¿ para buscar fortalecer a candidatura do próprio PSDB à sucessão de Serra. ¿Isso é jogada. Se lançarmos (o ex-ministro da Fazenda Antônio) Palocci, eles dividem o empresariado com Skaf para tentar fazer o (ex-governador tucano Geraldo) Alckmin se eleger¿, arrisca o parlamentar.

A maioria do PT paulista pensa mesmo em lançar Antônio Palocci, nome defendido pelo presidente Lula, para o governo do estado, caso ele resolva pendências judiciais no Supremo Tribunal Federal (STF). Um dos principais argumentos é o fato de que Palocci, além de ter sido prefeito de Ribeirão Preto, uma das cidades mais ricas do interior paulista, foi ministro e tem bom relacionamento e aceitação junto ao empresariado. Com uma eventual candidatura Skaf, segundo o deputado petista, o empresariado ¿fecharia com o nome da Fiesp¿.

No PSDB o assunto também não é prioritário por hora. Ninguém confirma nem descarta o apoio ou adesão de Skaf aos projetos tucanos. A legenda deve lançar candidato à sucessão estadual o ex-governador Geraldo Alckmin, o chefe da Casa Civil do governo Serra, Aloísio Nunes Ferreira, ou mesmo o aliado democrata e secretário do Trabalho de Serra, Guilherme Afif Domingos. Para os aliados de Skaf, Palocci, mesmo absolvido, criou uma imagem negativa.

As alternativas petista e tucana de lançar os tradicionais Marta Suplicy e Geraldo Alckmin também estariam desgastadas, especialmente em razão da eleição do ano passado, perdida pelos dois e recente na memória do eleitor. E os outros nomes têm pouca visibilidade junto à população. Depois da esmagadora reeleição do então pouco conhecido prefeito paulistano Gilberto Kassab (DEM), os defensores da candidatura Skaf estão cheios de argumentos e acreditam: em São Paulo, tudo é possível.