Título: Para estimular economias, governos da AL vão investir mais US$ 150 bi
Autor: Beck, Martha; Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 12/04/2009, Economia, p. 26

De desonerações a subsídios, 32 países já adotaram 400 medidas, diz Cepa.

BRASÍLIA. Desde o início da crise financeira mundial, segundo a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), os países da região já tomaram cerca de 400 medidas para tentar proteger suas economias. De acordo com o levantamento, 32 países adotaram ações anticrise desde o último trimestre do ano passado, especialmente na área fiscal. As medidas preferidas têm sido desonerações, subsídios e aumentos de gastos públicos, especialmente voltados a investimentos em infraestrutura.

Até agora, os governos da região já anunciaram aumento nos investimentos públicos de, pelo menos, US$ 150 bilhões. O Brasil entra na conta com R$ 97 bilhões ou US$ 44 bilhões (considerandose só o Orçamento de 2009).

A Cepal destaca que os países da região têm sofrido com a redução da entrada de dinheiro externo e, por isso, o mais eficiente no curto prazo seria que os bancos centrais agissem para dar mais liquidez e estimular o mercado de crédito local. No entanto, como boa parte das economias tem baixo grau de monetização e mercados financeiros pouco desenvolvidos, as ações tomadas têm seguido outras linhas.

A Argentina, por exemplo, anunciou plano de obras públicas de US$ 33 bilhões. No caso da Bolívia, o montante de investimentos públicos anunciado até agora é de US$ 2,9 bilhão, com US$ 870 milhões alocados na infraestrutura.

No Chile, os investimentos previstos são de, pelo menos, US$ 7 bilhões.

Brasil e México sofrerão mais, diz entidade No campo dos subsídios, a Argentina ofereceu uma redução de até 75% no pagamento da contribuição patronal às empresas que criem ou regularizem postos de trabalho. Já o Chile aumentou subsídios para a compra da casa própria.

O Brasil anunciou desonerações que somam R$ 3,075 bilhões somente este ano.

Mesmo com esses esforços, a projeção da Cepal é que a região vai fechar o ano com uma retração de 0,3%. As economias mais prejudicadas seriam a mexicana, com queda no Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país) de 2%, e o Brasil, com recuo de 1%.

Para o economista Alexandre Marines, da Consultoria Mosaico, os países da região são, em geral, exportadores de commodities, sejam energéticas (petróleo e gás), agrícolas (soja, trigo, entre outros) ou minerais e metálicas (minério de ferro, cobre). Essa característica fez com que essas nações tivessem ganhos com a alta forte nas cotações dos produtos e conseguissem equilibrar suas economias.

¿ Esses países se beneficiaram com a alta dos preços das commodities a partir de 2003, o que lhes trouxe recursos suficientes para melhorar sua solvência externa ¿ disse o economista.

Com o aumento das cotações das commodities no mercado internacional, cresceu o fluxo de capitais externos, as moedas locais se valorizaram frente ao dólar e esses países puderam pagar dívidas e acumular reservas.

¿ Graças a isso, os países latino-americanos têm condições de se endividar mais, reduzir seus superávits primários (receita menos despesas antes do pagamentos dos juros da dívida) e gastar mais recursos públicos para enfrentar a crise ¿ afirmou Marines.

Protecionismo é usado para melhorar contas externas Dentro do conjunto de medidas anunciadas, também estão barreiras comerciais para proteger os países contra a entrada de importados. Na área aduaneira, a Argentina decidiu, por exemplo, aplicar licenças prévias de importação para uma série de produtos como calçados e têxteis, O secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, considera negativa esse tipo de medida, pois em momentos de crise é preciso mais comércio entre os países e não o fechamento de mercados.

Para José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), recorrer ao protecionismo é a forma mais simples e rápida para melhorar o resultado do balanço de pagamentos (contas com o resto do mundo), embora tenha efeito ruim a longo prazo.

Castro lembrou que a maioria dos países atrai pouco capital, o que lhes dá estreita margem de manobra: ¿ Romper a importação é uma alternativa. Nem todos os países podem conceder incentivos fiscais para estimular o crescimento econômico.