Título: É preciso qualificar a mão-de-obra
Autor: Bôas, Bruno Villas; Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 16/04/2009, Economia, p. 20

O ano de 2009 mudou para sempre a forma como as empresas fazem negócios, e o Brasil está no radar das grandes corporações graças principalmente a seu enorme mercado doméstico. Essa é a avaliação de Mark Spelman, líder global de estratégia da consultoria Accenture. Spelman apresenta hoje no Fórum uma pesquisa da Accenture, feita com 375 empresas de 53 países, sobre estratégias de negócios globais.

Luciana Rodrigues

Como o senhor vê a reação da América Latina à crise global?

MARK SPELMAN: Nenhum país escapou dessa crise, houve uma recessão sincronizada em economias desenvolvidas e emergentes. A crise começou no setor financeiro e agora afeta a economia real. O ano de 2009 viu uma mudança radical na forma como se faz negócios e, politicamente, reconheceu que os países emergentes são, agora, parte da solução. Isso ficou claro no encontro do G-20. E ficou claro também que nenhum país consegue isolar seu sistema financeiro. Então será preciso uma ação coordenada para sair da crise.

As empresas estão preparadas para lidar com esse cenário?

SPELMAN: Na nossa pesquisa, perguntamos quais serão as principais questões para os líderes empresariais nos próximos três a cinco anos. E cinco temas emergiram: encontrar novos consumidores, recrutar talentos, inovar, ter acesso a capital e garantir o fornecimento de matéria prima.

Como o Brasil aparece nesses temas?

SPELMAN: Do ponto de vista macroeconômico, há razões para otimismo. O país acumulou reservas, tem uma posição fiscal sólida e tem um grande mercado doméstico. Então, no item encontrar novos consumidores, o Brasil aparece bem. O país também tem reputação de ser empreendedor e há muitas inovações, sobretudo na área de energias renováveis. Quanto à segurança no fornecimento (de matérias primas), também não há preocupação. Mas há duas áreas em que o Brasil não vai bem: recrutar talentos e ter acesso a capital. Mesmo grandes empresas como a Petrobras precisam de parcerias para viabilizar seus investimentos, o financiamento não está tão disponível. E a educação é uma questão para o longo prazo, um grande problema. Ter capital humano é a garantia de construir capacidade futura de crescimento econômico. E, no mundo, há uma guerra por talentos. É preciso qualificar a mão-de-obra.