Título: Não fiquem dizendo que sou Sarney
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 20/04/2009, O País, p. 4

Dois dias após assumir governo do Maranhão, Roseana diz que pretende se descolar da imagem do pai

Quase sete anos após deixar o Palácio dos Leões, Roseana Sarney (PMDB) voltou ao governo do Maranhão disposta a descolar a carreira política da imagem do pai, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Roseana tomou posse por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que cassou o pedetista Jackson Lago quinta-feira.

- O que eu quero é que me deixem trabalhar e não fiquem o tempo inteiro dizendo que sou Sarney. Eu quero a minha identidade própria - disse.

Luiza Damé

Qual seu maior desafio em 20 meses de governo?

ROSEANA SARNEY: Organizar a casa. Depois, temos outros desafios: saúde, segurança. São coisas que têm de acontecer com agilidade e governabilidade. O que estava acontecendo no Maranhão é que não existia governo. Agora terá comando.

Qual a situação econômica do estado?

ROSEANA: Estou voando no escuro. Não foi passada nenhuma informação.

A senhora espera ajuda do presidente Lula?

ROSEANA: Se o presidente está ajudando os municípios, não tenho a menor dúvida de que vai ajudar os estados, inclusive o Maranhão.

E a relação com o governo Lula?

ROSEANA: Nunca tive problema com o presidente Lula. Ele veio no meu comício de encerramento, eu fui líder no Congresso dois anos e sempre trabalhei com ele. O PMDB faz parte do governo, e vamos trabalhar em parceria.

Como será daqui para frente, já que o seu adversário teve mais votos, mas por decisão da Justiça a senhora assume o governo?

ROSEANA: Essa é uma questão da Justiça. Não me sinto constrangida de falar: sou governadora de fato e de direito.

Mas não é mais difícil governar nessa situação?

ROSEANA: Eu não tenho nenhum medo de governar o Maranhão. As pessoas me conhecem, sabem que sou séria. Quero é que me deixem trabalhar e não fiquem dizendo que sou Sarney. Eu quero a minha identidade própria. Quem faz campanha sou eu, quem vai para as ruas sou eu, quem constrói a unidade sou eu, quem administra sou eu, mas a mensagem que mandam é que é a filha de Sarney. Eu tenho minha personalidade, minha história política no Maranhão e vou lutar por ela, para ter minha identidade, minha biografia. Sempre fui assim e vou continuar sendo. E não vou me entregar, porque nunca me entrego.

A senhora está preparada para uma forte oposição?

ROSEANA: Sim. Eu nunca tive moleza. Não foi moleza construir a minha carreira. Entrei em condições adversas. Fazia política estudantil e, quando fui candidata a deputada federal, meu pai tinha saído da Presidência da República, praticamente expulso do PMDB do Maranhão, com altos índices de impopularidade. E eu me elegi a deputada federal mais votada do Maranhão, por esforço e mérito próprios. Eu tenho um pai que adoro e ele adora sua filha. Mas eu tenho minhas próprias pernas.

É candidata à reeleição?

ROSEANA: Ainda não pensei nisso. Estou pensando em trabalhar. Dentro de uns 30 dias, vou me afastar, porque tenho uma cirurgia (para retirada de um aneurisma no cérebro).

Como está sua saúde? Está preparada para a cirurgia?

ROSEANA: A saúde está bem. Estou controlando a pressão, a única coisa que eu posso controlar. Não ter preocupações é impossível.

Os problemas do Congresso, onde seu pai é presidente do Senado, terão reflexo aqui?

ROSEANA: Não. Ele vai fazer o trabalho dele e eu o meu. O Executivo é independente do Legislativo e o Maranhão não é o Congresso.

O Maranhão tem índices sociais ruins. Como mudar isso?

ROSEANA: Sempre houve e a gente sempre tenta reverter esse índices. Estamos sempre atrás, mas questiono esses índices porque eles apareceram junto com a minha pré-candidatura à Presidência (em 2002).

Foi montado?

ROSEANA: Questiono esses índices. Você não vê essa pobreza no Maranhão. Mas não sinto responsabilidade por esses índices. Sei que na minha época os indicadores melhoraram. Agora, eu não sou responsável pelo governo do João Castelo, que hoje é prefeito de São Luís. Cada um responde pelo período em que foi governador. Dizem que são 50 anos (de oligarquia Sarney). Eu tinha acabado de nascer e já estava numa oligarquia. José Sarney, jovem, já era muito competente e tinha uma oligarquia. Para desculpar que não trabalham, o discurso é esse.