Título: FMI: fome atingirá mais de 1 bilhão de pessoas
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 25/04/2009, Economia, p. 23

Crise econômica global afeta metas do milênio e empurrará até 90 milhões para a pobreza absoluta este ano.

WASHINGTON. A maneira como a crise econômica vem empurrando para a recessão ou reduzindo o crescimento de países pobres e emergentes fará com que mais da metade das nações em desenvolvimento sofra com o aumento no número de pessoas vivendo na pobreza extrema (com até US$ 1,25 por dia) em 2009, segundo o Relatório de Monitoramento Global do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (Bird). E o pior: a quantidade de pessoas sofrendo cronicamente de fome no mundo vai ultrapassar pela primeira vez um bilhão ¿ 15% da população mundial, o equivalente à população da Índia.

Segundo o economista-chefe do FMI, Justin Yifu Lin, no mundo inteiro calcula-se que entre 55 milhões e 90 milhões de pessoas devem entrar no grupo de miseráveis, que vivem em pobreza absoluta por causa da recessão mundial em 2009.

¿ A crise se mostra mais severa no longo prazo do que no curto prazo ¿ disse Lin. ¿ Porque quando as famílias pobres tiram seus filhos do colégio, há um risco significativo de que eles não voltem a estudar com a crise terminada. E o declínio no padrão de nutrição e de saúde entre as crianças mal alimentadas é um mal irreversível, retardando seu crescimento e o desenvolvimento intelectual.

Número de famintos crônicos vem aumentando O combate à fome era uma das metas do milênio com grandes chances de serem atingidas em 2015. Mas essa meta, diz o diretor-gerente adjunto do FMI, Johk Lipsky, sofrerá um sério revés por causa da crise, não apenas devido à retração das economias dos países em desenvolvimento, mas também porque, apesar do recuo nos preços dos alimentos e do petróleo no mercado internacional, esses valores continuam excepcionalmente altos em comparação a médias históricas.

O número de pessoas cronicamente famintas vem aumentando de 850 milhões, em 2007, para 960 milhões, em 2008, e mais de um bilhão este ano, diz o relatório. Mas na comparação da população faminta com o total da população mundial, hoje em 6,6 bilhões, este percentual vinha caindo.

Estudos mostram que os colapsos econômicos são extremamente prejudiciais para os avanços nos indicadores de desenvolvimento humano, já que a deterioração dos padrões de vida ocorrem mais rapidamente do que a recuperação em períodos de crescimento econômico.

Por causa disso, diz Lin, a miséria no mundo aumentará drasticamente este ano.

No caso dos países pobres, a situação é pior do que na média dos países em desenvolvimento: 66% dos países pobres verão a miséria crescer. Mas o pior cenário será o da África subsaariana, onde 75% dos países verão a pobreza aumentar. Na América Latina, 40,3 milhões de pessoas estarão vivendo abaixo da linha da pobreza em 2009, ou seja, um aumento de 2,7 milhões de pessoas em relação aos números de 2008 (37,6 milhões).

Segundo o Banco Mundial, o Brasil, em 2007, tinha 5,25% da população vivendo abaixo da linha da pobreza, ou seja, com menos de US$ 1,25 por dia.

Para Justin Lin, a prioridade dos países em desenvolvimento, agora, deve ser ampliar os colchões de amparo social e os investimentos que gerem empregos de forma intensiva, como em infraestrutura.

¿ Milhões de pessoas vão perder seus empregos em 2009, e recursos urgentes devem ser dirigidos para redes de segurança social ¿ disse Lin.