Título: Orem por ela, no palanque
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 28/04/2009, O País, p. 3

Lula inaugura obras falando do linfoma de Dilma e diz que o povo vai precisar de sua candidata

Evandro Éboli Enviado especial ¿ MANAUS

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva apareceu pela primeira vez em público ontem ao lado da ministra Dilma Rousseff, depois que sua candidata à Presidência anunciou estar em tratamento contra um câncer linfático, e não perdeu a oportunidade de falar da doença na série de inaugurações de obras e distribuição de títulos de propriedade de terra na capital amazonense, em clima de campanha eleitoral.

Lula disse que a prioridade zero, agora, é cuidar da saúde da ministra, mas, apesar da gravidade da doença, disse que Dilma ¿não tem nada¿, que a quimioterapia é um tratamento preventivo e que ela continua sendo sua candidata ao Planalto. Na inauguração de um conjunto habitacional, ao finalizar o discurso, Lula pediu que Dilma se levantasse, segurou e ergueu sua mão e pediu aos populares que rezassem por ela. Segurando a mão da ministra, dirigiu-se a Dilma: ¿ Quero que você olhe para as pessoas porque a partir delas vem a sua força. Vem a força que você precisa para ser forte. Esse povo vai precisar muito de você daqui para a frente ¿ disse Lula, voltando-se para o povo: ¿ Orem por ela ¿ apelou, sob aplausos da população e dos políticos e autoridades locais.

Mais cedo, na maratona de inaugurações, Lula falara da doença: ¿ Já disse publicamente que Dilma é minha candidata, mas não sou o partido (PT). Tem que passar pelo partido, pela base aliada, por discussão.

A prioridade zero é cuidar da saúde dela. Com essas coisas a gente não brinca. A segunda prioridade, até para superar essa doença, é enfiar a cabeça nesse PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) 24 horas por dia. Espero não vê-la faltar um dia só ao trabalho.

Teve até jingle de campanha de Lula

Sorridentes, tirando fotos e distribuindo abraços, Lula e Dilma estiveram lado a lado o tempo todo, numa maratona de mais de dez horas de agenda que teve até o jingle da campanha eleitoral de 2002 do petista: ¿ Na verdade, a companheira Dilma não tem mais nada. Segundo os médicos, o que ela tem que fazer agora é um tratamento preventivo para que não volte a ter nunca mais (o câncer).

Não tem que se fraquejar nessas horas, mas andar de cabeça erguida, encarar a realidade e trabalhar.

O gânglio na axila esquerda da ministra foi descoberto há cerca de três semanas, num exame de rotina, e já foi retirado. Agora, ela fará sessões de quimioterapia por quatro meses, segundo seus médicos.

O clima de campanha eleitoral tomou a agenda da comitiva presidencial ontem em Manaus, que contou ainda com a presença de outros ministros, como o amazonense Alfredo Nascimento (Transportes), Nelson Jobim (Defesa) e Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos), além de políticos locais capitaneados pelo governador aliado Eduardo Braga.

Na visita ao Terminal Hidroviário São Raimundo, o jingle da campanha de Lula de 2002 foi executado nos altofalantes durante a meia hora que a comitiva permaneceu no lugar. A música ficou conhecida por seu refrão: ¿É só você querer/que amanhã assim será/bote fé e diga Lula/bote fé e diga Lula/Eu quero Lula¿.

Durante a entrega de títulos de terra, o presidente afirmou que seu governo vai ¿legalizar¿ a Amazônia Legal, que, segundo ele, hoje só é batizado assim nos mapas geográficos.

¿ Pelo que a gente vê, a Amazônia é legal só nos mapas. Vamos acabar com isso e com a grilagem de terras.

COLABOROU: Paula Litaiff, especial para O GLOBO