Título: Fazenda revê previsão de crescimento do PIB para este ano: entre 0,7% e 1%
Autor: Beck, Martha; Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 20/05/2009, Economia, p. 20

Ministério apresenta nova avaliação hoje. Vazamento do dado causou desconforto

BRASÍLIA. O Ministério da Fazenda apresentará hoje uma conta mais modesta para o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) em 2009. Os 2% previstos desde o início do ano, segundo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, serão substituídos por 0,7%. Mas fontes disseram ao GLOBO que o número pode ser ligeiramente superior, de 1%.

Nos bastidores, o vazamento ontem da previsão de 0,7% - que constará do decreto bimestral de programação orçamentária, a ser divulgado hoje - causou desconforto. Isso porque o ministro da Fazenda, Guido Mantega, havia falado em intervalo de 0% a 2% na semana passada. Uma expansão de 1% significaria uma queda do ritmo de atividade à metade do previsto até então - um recado em relação ao impacto real da crise.

Um número abaixo disso poderia passar a impressão de um pessimismo excessivo do governo. O 0,7%, porém, ainda assim estaria bem distante da retração de 0,49% que, na média, os analistas de mercado estimam para 2009, segundo o relatório Focus do Banco Central. A equipe econômica decidia o novo número em reuniões ontem à noite.

Fontes: visão técnica prevaleceu no governo

Segundo técnicos, a equipe econômica chegou a considerar manter uma expansão de 2% no decreto, mas ante o fraco desempenho da produção industrial e da retração do PIB no primeiro trimestre, prevaleceu a visão de que seria melhor apresentar a avaliação da área técnica e não sucumbir à política.

- O Ministério da Fazenda tem que ser o mensageiro das boas notícias. Por isso, se considerou até mesmo manter a projeção de crescimento em 2% no decreto - disse um técnico, lembrando que a projeção para 2010 também será revista, de 4,5% para 4%, mas só será expressa quando a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2010 chegar ao Congresso, em agosto.

O primeiro sinal de que o crescimento de 2009 seria revisto foi a decisão do governo de reduzir a meta de superávit primário - economia de recursos para o pagamento de juros da dívida pública - deste ano de 3,8% para 2,5% do PIB. Uma expansão menor daria condições para um esforço fiscal menor.

- As contas do esforço fiscal chegaram a ser feitas para suportar até mesmo um crescimento negativo em 2009 - disse o técnico, lembrando que, diante disso, não será necessário fazer ajustes nas despesas, que já sofreram bloqueio de mais de R$20 bilhões este ano.

Segundo os técnicos, para que o percentual de crescimento de 2% fosse mantido, seria preciso que a produção de março - que subiu apenas 0,7% - tivesse crescido bem acima dos percentuais de janeiro (2,3%) e fevereiro (1,8%).