Título: Parece melhora, mas não é
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 22/05/2009, Economia, p. 19

Apesar de leve recuo na taxa de desemprego, mercado está parado e o rendimento, em queda

Após três meses de alta, a taxa de desemprego registrou uma ligeira queda em abril, saindo de 9% em março para 8,9% no mês passado, totalizando 2,046 milhões de desempregados, conforme divulgou o IBGE. Em abril de 2008, o índice foi de 8,5%. Apesar da boa surpresa com o recuo no indicador, os sinais de que a crise chegou ao mercado de trabalho metropolitano são claros, na opinião de especialistas. Um dos mais nítidos é a queda do rendimento pelo terceiro mês seguido. Segundo Cimar Azeredo, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego, o mercado não está evoluindo:

- Estamos diante de um mercado que não gera postos de trabalho. Mas os empregos estão se mantendo. Vínhamos assistindo a uma melhora, que não está mais presente em 2009. Se este cenário se mantiver, a fila de desocupados pode ficar maior.

A taxa subiu menos que o esperado, mas não por causa de mais contratações. O que houve foi diminuição da procura por trabalho - o que caracteriza o desempregado. Para o economista Lauro Ramos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), se a pressão para conseguir uma vaga estivesse no patamar do ano passado, o desemprego não teria caído. Segundo ele, o número de trabalhadores ocupados frente a 2008 vem desacelerando. Essa taxa estava em torno de 3% em dezembro e foi baixando até chegar a 0,2% em abril. Foi a menor criação de vagas desde janeiro de 2004, início da pesquisa do IBGE:

- Não adianta fugir da constatação de que a demanda por trabalho foi severamente afetada.

Segundo o professor João Saboia, diretor do Instituto de Economia da UFRJ, é natural que a procura por emprego caia em períodos de crise, mas ele considerou o dado "surpreendentemente positivo". Para ele, já há sinais de recuperação da economia. Saboia, porém, chama a atenção para a retração de 0,7% do rendimento médio real, a terceira seguida:

- A renda está enfraquecendo. Isso pode indicar a troca de emprego por renda, numa rotatividade da mão de obra. Mesmo assim, o nível de renda é mais alto que no ano passado, o que, em parte, está segurando a economia.

Já segundo Azeredo, é a inflação que explica a queda no rendimento real.

O economista da Opus Gestão de Recursos e professor da PUC José Márcio Camargo também se surpreendeu. Ele esperava taxa de desemprego de 9,5%. Mas lembra que o mercado vem cortando vagas há três meses, o que só aconteceu uma vez, em 2005, desde que a pesquisa do IBGE começou. Assim, sua projeção de que a taxa atinja um pico entre 10% e 11% entre junho e agosto permanece, bem como a previsão de desemprego médio anual entre 9,5% e 10%, mesmo nível de 2007. Em 2008, foi 7,9%.

Já para Saboia, os indicadores não devem se aproximar dos números de 2007, como alertou esta semana o presidente do BC, Henrique Meirelles:

- A taxa ficará pior que a de 2008, mas longe da de 2007. O mercado melhorou muito no ano passado.

Azeredo, do IBGE, diz que, neste cenário de crise, "o resultado, de certa forma, é até positivo". Ele cita indicadores que se mantiveram firmes, como o emprego com carteira, que subiu 0,9%, apesar do corte de 40 mil pessoas no universo de ocupados.

- Não está havendo destruição de postos com carteira assinada.

Desempregada desde novembro, Camila Freire, de 24 anos, conseguiu há um mês um emprego com carteira numa empresa de cosméticos, como analista de marketing:

- Senti muita dificuldade para encontrar uma vaga. Eu me concentrei na área de marketing, mas mesmo para outro tipo de ocupação a busca estava difícil. A quantidade de candidatos por vaga era sempre muito grande. Mesmo com qualificação.

Para os especialistas, vários fatores explicam o comportamento mais favorável do emprego com carteira: flexiblização de normas trabalhistas, simplificação de impostos para pequenas e médias empresas, além de políticas de incentivo do governo.

No setor industrial, o emprego teve sua maior retração desde o início da pesquisa. Cortou 105 mil postos, reduzindo o contingente em 3%.

COLABOROU Erica Ribeiro