Título: Preço de petróleo venezuelano dificulta acordo
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 27/05/2009, O País, p. 3

Petrobras defende fórmula específica para cálculo do valor, mas PDVSA não aceita

SALVADOR. O impasse em torno da parceria entre Petrobras e PDVSA para a construção da refinaria Abreu Lima se deu por causa de três problemas, ainda insolúveis: o preço do petróleo que o Brasil utilizará do vizinho, o custo preciso do investimento (inicialmente orçada em US$5 bilhões, a obra já estaria avaliada em mais de US$20 bilhões) e a utilização do produto que sairá da refinaria. O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse ontem que a dificuldade em relação ao preço está em chegar a uma fórmula para um produto que, segundo ele, ainda não tem valor estipulado pelo mercado internacional.

- Nossa visão é que esse petróleo tem de ser referendado a preço internacional. A discussão é como fixar esse preço. É um petróleo que não tem mercado internacional e, portanto, tem de ser precificado (sic). Não é um produto que tem um mercado onde se define internacionalmente o preço. Ele tem referência internacional, porém os índices que serão utilizados estão em andamento - afirmou.

A PDVSA planeja comercializar toda produção da refinaria no Brasil, mas, segundo Gabrielli, há empecilhos legais para isso. Sobre a questão dos preços, o presidente Hugo Chávez repetiu que a PDVSA não pode conceder preço diferenciado ao Brasil:

- O preço tem de ser de mercado. No mundo inteiro funciona assim. Funciona assim em Cuba, nos Estados Unidos e na Rússia.

Gabrielli defende destinação de recursos da empresa para ONGs

Em abril, o Tribunal de Contas da União apontou novos indícios de fraude na construção da refinaria. Relatório indicava que o superfaturamento na obra já chega a R$94 milhões - aumento de quase 60% em relação ao excedente de R$59 milhões estimado em dezembro pelo tribunal. A auditoria afirma ter havido execução de serviços que não estavam previstos no contrato, "com alteração substancial do projeto da obra". Em dezembro, o TCU apontara 12 indícios de irregularidades na primeira fase da obra e listara problemas como orçamento incompleto e falta de licença ambiental no momento da licitação.

Gabrielli defendeu ontem a destinação de recursos da Petrobras para ONGs e prefeituras. Ele negou que a empresa use critérios políticos ao escolher quem patrocinar.

Segundo Gabrielli, o recurso é pequeno, se comparado, por exemplo, ao investimento que a Petrobras faz em anúncios nos jornais e televisões. Para ele, a CPI aprovada no Senado não trará prejuízos à empresa, desde que se atenha a fatos determinados. Questionado sobre suposto privilégio a entidades petistas, ele disse:

- Isso vamos discutir de forma clara na CPI. Não temos problema em explicar os critérios e processos de escolha de nossos apoios. Temos orgulho de ser uma companhia que tem uma responsabilidade social reconhecida internacionalmente. Não há critério partidário, da mesma maneira que não os há para impedir que organismos que sejam partidarizados recebam ou não recebam recursos.

Sobre denúncias de que há entidades que recebem verba, mas que não funcionam, Gabrielli disse:

- Os jornais têm publicado que temos 1.100 contratos. Há problemas em dois ou três deles.

E provocou:

- Eu poderia também revelar aqui o que estamos gastando em publicidade com os jornais e televisões. Isso é muito mais - declarou, negando, depois, que a frase se tratasse de uma ameaça. (Chico de Gois)