Título: GM do Brasil sob controle do governo dos EUA
Autor: D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 03/06/2009, Economia, p. 27

Presidente diz que filial brasileira não será afetada por concordata e que não fará novos cortes de empregos

SÃO PAULO e RIO. O presidente da General Motors (GM) do Brasil e Mercosul, Jaime Ardila, reafirmou ontem que o processo de recuperação da matriz americana não tem impacto direto nas operações da montadora no Brasil. Ardila explicou que a GM brasileira passará a integrar a Nova GM, que reunirá os ativos rentáveis da companhia e terá como principal acionista o governo dos Estados Unidos. E assegurou que a subsidiária brasileira terá maior autonomia financeira do que tinha antes.

- Em termos financeiros, a GM do Brasil é saudável, lucrativa e teve em 2008 seu melhor ano no país. Isso nos dá tranquilidade de que teremos recursos suficientes para assegurar a operação e os investimentos - disse ele, em entrevista ontem na sede da GM em São Caetano do Sul, no ABC paulista. - A GM do Brasil não precisa e não espera ajuda da matriz.

Filial não enviará recursos para ajudar matriz

Ardila descartou também a possibilidade de a filial ser chamada a remeter recursos para ajudar a matriz que, segundo ele, tem "um padrinho melhor", que é o governo americano. Por isso, insistiu, nada muda nos planos de investimento já anunciados no Brasil, que envolvem US$2,5 bilhões até 2012.

Deste valor, US$1 bilhão já foi desembolsado. Segundo ele, US$500 milhões foram aplicados na criação de um novo modelo, o Viva, que será produzido na Argentina e chega ao mercado no segundo semestre. Outros R$500 milhões foram para o desenvolvimento de plataformas para novos projetos. Para 2010, está mantido o lançamento de quatro novos produtos.

Quanto ao restante dos recursos previstos no plano de investimentos, Ardila afirmou que sua aprovação dependerá do novo conselho da companhia nos EUA, mas adiantou que a filial brasileira disporia de caixa para financiar os novos projetos. Mas o executivo não descartou recorrer a outras fontes de recursos, inclusive junto a instituições financeiras. Ardila também tentou tranquilizar os consumidores brasileiros:

- Não vai acontecer nada de diferente.

Ele destacou que a empresa retomou em maio a fatia de 20% das vendas no mercado interno de veículos, o que revelaria confiança do consumidor na marca. O presidente da GM do Brasil afirmou também que a empresa encerrou o ajuste de pessoal em suas três fábricas instaladas no país, e que pretende manter os atuais 21 mil empregados.

- Temos muita confiança no mercado e no futuro do país.

Lançamento no Brasil terá tecnologia da Opel

Em relação aos acordos de transferência de tecnologia que a filial brasileira mantém com a Opel, Ardila garantiu não haver problemas com o fato de a GM ter vendido 65% do capital daquela divisão à canadense Magna e a investidores russos. Ele explicou ainda que, dos novos produtos a ser lançados, um deve ter tecnologia desenvolvida inteiramente pela Opel.

- Não muda nada em termos de estrutura de produtos. O produto Opel vai continuar sendo desenvolvido pelo corpo de engenheiros e designers da GM.

Além disso, completou, a filial brasileira já é um dos centros tecnológicos da marca, com mais de 1.200 mil engenheiros e 300 designers.

O BNDES informou ontem que os pedidos de financiamento da General Motors no Brasil só seriam afetados caso a matriz americana incluísse a subsidiária brasileira no pedido de concordata. A GM brasileira tem cartas-consultas para novos empréstimos no banco, cujo valor não foi informado.

COLABOROU Anna Luiza Santiago