Título: Meio Ambiente: um eterno campo minado
Autor: Alencastro, Catarina; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 04/06/2009, O País, p. 3

Pressão de interesses contrariados é uma constante para os ocupantes da pasta

BRASÍLIA. No centro de diferenças tornadas públicas entre setores do governo, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, não é o primeiro ocupante da pasta a enfrentar intempéries políticas. Marina Silva, sua antecessora, ameaçou deixar o cargo várias vezes, até chegar à conclusão de que poderia avançar mais como senadora do que como ministra. Gustavo Krause, que esteve no cargo de 1995 a 1998, no governo Fernando Henrique, diz que a tarefa é de "enorme solidão política".

- A primeira grande dificuldade do ministro de Meio Ambiente é que ele trata de uma questão central para a humanidade e periférica para os governos. Os ministros dessa área sofrem de uma enorme solidão política - analisa Krause.

Para ele, o desenvolvimento sustentável é uma retórica. O ideal seria que todos os ministros que tratam de energia, transportes e infraestrutura fossem um pouco ministros do Meio Ambiente.

- É um gestor que trata de interesses que estão por vir. Ele faz adversários à vista e aliados a prazo - diz.

Krause avalia ser muito difícil exercer a função sem apoio político. Ele diz acreditar que Minc está com os dias contados no governo Lula:

- A fritura do ministro Minc vai acontecer na fogueira de São João.

Reafirmando que está firme no governo, Minc concorda com o ex-colega sobre os problemas diários enfrentados como titular do Meio Ambiente.

- Num momento em que as pessoas querem mais carro, mais ponte e mais estrada, e você fala "Peraí, vamos botar um filtro", vira o empata-festa. Perguntam: "Você prefere salvar um manguezal de 500 metros a criar 120 mil empregos?" É uma guerra dentro do governo, fora do governo, na sociedade e no Parlamento - desabafa Minc.

O ministro diz que, se não fizer uma sessão de shiatsu logo de manhã, não dá para encarar o dia:

- Se você diz que não vai dar uma (licença para) hidrelétrica, a ministra Dilma ameaça se jogar, o ministro Lobão diz que vai ter apagão. Se você der, o Ministério Público diz que vai processar o Roberto Messias (presidente do Ibama) por crime de responsabilidade. Durma com essa. O Messias já teve vários problemas de coração. É uma situação complicadíssima.

Ex-ministro do Meio Ambiente, o deputado Sarney Filho (PV-MA) diz que ser ministro dessa área no governo Lula é muito mais difícil do que em sua gestão, no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. Ele afirma que teve apoio para implementar as medidas necessárias, como a mudança no Código Florestal, que ampliou a reserva legal na Amazônia de 50% para 80%.

- Não é simples, porque você mexe com várias agendas, mas fica muito mais difícil quando o governo não sabe o que quer. Este governo ainda não decidiu se quer que a Amazônia seja a nova fronteira agrícola ou se quer a floresta em pé - afirma. (Catarina Alencastro)