Título: CPI começa hoje com divisão na base
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 02/06/2009, O País, p. 3

Renan insiste em escolher relator, mas governo teme ficar refém do líder do PMDB.

Na véspera da instalação da CPI da Petrobras, prevista para hoje à tarde, o governo ainda tentava apagar um incêndio para evitar a divisão da base aliada. Na Presidência da República, o clima era de apreensão com os sinais de resistência do líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), em indicar o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), para relator da CPI. O governo quer garantir a escolha de Jucá para a relatoria e de um aliado de confiança para a presidência da comissão, sendo que o nome mais forte é o do senador João Pedro (PT-AM).

Mas Renan estaria insistindo, nos bastidores, em ter uma pessoa de sua estrita confiança na relatoria, contrariando acordo feito com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada. Os governistas vão cobrar de Renan esse compromisso, já que o próprio Lula evitou a indicação do líder do PT, senador Aloizio Mercadante (SP), para a CPI, atendendo a um pedido do peemedebista.

O governo teme ficar refém do líder do PMDB na CPI da Petrobras. Avaliação feita ontem à noite pelos articuladores do governo era de que a situação estava "complicadíssima". Com o objetivo de evitar surpresas, o governo marcou para o início da manhã de hoje uma reunião a fim de acertar a posição do governo e as indicações para presidência e relatoria da CPI.

A reunião foi convocada pelo ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro. Foram convidados Renan, Jucá, Mercadante, além do líder do PTB, Gim Argello (DF), e da líder do governo no Congresso, senadora Ideli Salvatti (PT-SC).

Apesar de o nome mais cotado para a presidência ser o do petista João Pedro, surgiu a possibilidade de o posto ser ocupado pelo senador Inácio Arruda (PCdoB-CE). Mas como já é integrante da CPI das ONGs, Arruda teria que se afastar da primeira para assumir o comando da CPI da Petrobras.

No PMDB, a resistência de Renan à indicação de Jucá foi interpretada como um sinal de que o líder do partido não desistiu de ter forte influência na CPI. Se Renan vencer mais essa queda de braço, ele tem duas opções do PMDB: Paulo Duque (RJ) e Leomar Quintanilha (TO), senadores de pouco trânsito e influência na Casa.

A oposição já identificou a crise entre os partidos da base aliada e tenta tirar proveito dessa divisão. Mas avisou, que, depois de ser excluída dos cargos de comando da comissão, a ordem é evitar qualquer tipo de acordo na condução dos trabalhos.

- Permanece a briga entre Renan e Mercadante. Por isso, dependendo dos nomes que serão indicados para relatoria e presidência da CPI, vamos saber se a crise na base aliada estará ou não administrada. Agora, se o governo quer adotar o caminho da turbulência, o clima de tensão, ele terá isso - avisou o líder do DEM, José Agripino Maia (RN).

Oposição vai requerer inquéritos da PF

Mas, independentemente da crise entre os governistas, a oposição já traçou o cronograma das primeiras reuniões. Nas primeiras sessões da CPI, o grupo vai requerer os inquéritos já abertos pela Polícia Federal para apurar irregularidades na Petrobras e na Agência Nacional do Petróleo (ANP), as auditorias feitas na estatal pelo Tribunal de Contas da União (TCU), além das providências já adotadas e solicitadas pelo Ministério Público Federal.

Já os depoimentos devem ficar para uma segunda fase. A oposição quer adiar, o máximo possível, o depoimento do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, para, até lá, ter mais elementos para inquiri-lo. O governo, no entanto, quer convocá-lo no início dos trabalhos, para esvaziar a CPI.

- Gabrielli só pode ser chamado quando houver avanço nas investigações. Vamos chamá-lo agora para perguntar o quê? Ele já arrumou desculpas para as denúncias que foram divulgadas - disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

Os requerimentos de convocação precisam ser aprovados pela maioria dos integrantes da CPI - dos 11 titulares, oito são de partidos da base governistas, mas nem sempre o governo tem todos esses votos a seu favor.

Ainda na primeira fase da CPI, a oposição vai tentar ouvir os funcionários da Petrobras que foram presos na Operação Águas Profundas. Essa investigação da Polícia Federal desbaratou um esquema de fraudes em licitações para serviços de reparos em plataformas petrolíferas da estatal.

Outra estratégia da oposição é encaminhar representações ao Ministério Público Federal com os elementos apurados pela CPI. O objetivo é fazer com que, independentemente do relatório da comissão, o Ministério Público possa abrir investigações com as denúncias que passarem pela comissão.