Título: Buscas onde caiu avião podem ser prorrogadas
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 15/06/2009, Rio, p. 12

Até agora, foram resgatados 49 corpos, mas especialistas dizem que trabalho ficará cada vez mais difícil

RECIFE A Aeronáutica informou ontem que o trabalho de resgate dos corpos das vítimas do acidente com o voo 447 da Air France poderá ser prolongado além dos 21 dias previstos inicialmente. A intenção é retirar do mar o maior número de restos mortais dos passageiros e tripulantes do Airbus. Até agora, foram localizados 49 corpos. A informação, na tarde de ontem, era de que 43 vítimas haviam sido resgatadas, e não 44, como divulgado anteriormente. A correção foi feita porque, após análise dos corpos, os peritos concluíram que um deles era de origem animal. À noite, seis corpos, que estavam no navio francês Mistral, foram transportados para uma embarcação brasileira, passando a ser computados pelas autoridades nacionais.

- Nosso objetivo é seguir até onde possam ser encontrados mais corpos. Somente quando não houver mais esta possibilidade é que serão encerradas as buscas. Podemos continuar além dos 20, 21 dias previstos - disse o tenente--brigadeiro da Aeronáutica Ramon Borges Cardoso.

Equipes não avistaram destroços e corpos ontem

Segundo ele, serão feitas análises de dois em dois dias para avaliar a manutenção do trabalho das equipes de resgate. Serão levados em consideração fatores técnicos e a possibilidade de encontrar mais corpos.

De acordo com especialistas, o trabalho de localização das vítimas entra nesta semana numa fase delicada. Além das correntes marítimas contribuírem para a dispersão dos destroços e da possibilidade de passageiros terem ficado presos no interior do avião, ainda não localizado no fundo do mar, o resgate torna-se gradativamente mais difícil porque a tendência é que os corpos não boiem mais.

Ontem, por exemplo, apesar do tempo bom na área de buscas, nada foi avistado, segundo informaram os comandos da Marinha e da Aeronáutica. Nenhum destroço ou corpo foi localizado, mesmo com a decolagem dos Hércules e do avião R-99, equipado com radar.

De acordo com o balanço divulgado ontem, já foram rastreados via radar 1.019.548 quilômetros quadrados, o equivalente a uma área dez vezes superior ao tamanho de Pernambuco ou cinco vezes o estado de São Paulo.

Parte do resultado do rastreamento chegou ontem ao Porto de Recife. A fragata Constituição, da Marinha do Brasil, transportou centenas de destroços do voo 447. Entre eles, estavam treze pedaços maiores da aeronave, como o estabilizador. A tripulação do navio, que levou seis horas para retirar a peça da água, ontem precisou de uma hora para transportá-la, com a ajuda de um guindaste e uma carreta, até um armazém. O destroço era tão grande que ultrapassava em 40 metros a largura do navio. Como os outros 37 pedaços recolhidos e já exibidos à imprensa pelos comandos da Marinha e da Aeronáutica, o estabilizador também não apresentava nenhum sinal de incêndio.

A chegada da fragata ao porto, às 10h, foi presenciada por dois funcionários da Air France, um do BEA (o órgão de investigação de acidentes da aviação civil da França) e pelo embaixador Pierre-Jean Vandoorne, que foi enviado pelo governo francês para falar com os parentes das vítimas. O diplomata afirmou que a previsão inicial era que a identificação dos corpos demorasse dois meses. Ele disse acreditar, porém, que este período será menor.

A fragata transportou ainda nove sacos com pertences das vítimas. Segundo a Aeronáutica brasileira, os objetos ficariam inicialmente sob a responsabilidade da Air France, mas agora será o BEA que decidirá sobre o seu destino. Eles estão armazenados no porto de Recife.

Ontem, um navio holandês rebocando o sonar da Marinha americana chamado "Towed Pinger Locator", começou a operar no Oceano Atlântico em busca dos sinais emitidos pelas caixas-pretas do voo 447.

Alguns corpos tinham documentos nos bolsos

De acordo com reportagem da revista "Veja", profissionais envolvidos na perícia dos corpos afirmaram que os ferimentos sofridos pelas vítimas fazem supor que o avião não explodiu nem se desintegrou inteiramente no ar, como se especula. Nesse caso, a aeronave teria caído na água com pelo menos parte de sua fuselagem preservada e com passageiros em seu interior. De acordo com a revista, os indícios que reforçam esta hipótese são: os corpos não apresentam fraturas múltiplas, o que ocorreria em caso de desintegração do avião; e as roupas de alguns passageiros se mantiveram preservadas, inclusive com documentos nos bolsos.

Segundo a revista, haveria ainda o sinal de "dentes rosados" nos corpos, resultado de hemorragia nas raízes dentárias, comum em casos de sufocamento. Isso reforçaria a hipótese de morte por asfixia causada pela despressurização da cabine.