Título: Enquadrado, PT volta a defender Sarney e diz que crise é do Senado
Autor: Camarotti, Gerson; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 03/07/2009, O País, p. 4

"Não há governabilidade sem aliança com o PMDB", afirma Mercadante

Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. Com forte crise de identidade, os senadores petistas foram jantar ontem à noite no Palácio da Alvorada dispostos a dividir com o presidente Lula o ônus político de dar sustentação política ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Depois de ter sugerido o afastamento temporário de Sarney, os petistas amenizaram a proposta ontem, exaltando a importância do apoio do PMDB para a governabilidade.

Em meio ao dilema do partido, o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), subiu à tribuna para tentar externar a posição do partido, mas acabou reforçando os problemas da bancada. Num discurso em que acenava ao mesmo tempo para o eleitorado petista e para as necessidades do governo Lula, Mercadante voltou a afirmar que a maioria da bancada era favorável ao afastamento de Sarney até o esclarecimento das denúncias, mas que essa proposta teria que ter a aprovação do presidente Lula e do PMDB.

Fez referências indiretas aos problemas do presidente do Senado ao atacar o nepotismo, atos secretos e também ao dizer que não podia haver salário de R$12 mil seja para motorista ou para mordomo. Mas disse que o partido tem compromisso com a governabilidade, deixando claro que, em última instância, a bancada teria que cumprir a determinação do presidente.

- Não há governabilidade sem aliança com o PMDB. Nós queremos a reforma do Senado, queremos a punição dos responsáveis, uma apuração rigorosa. Queremos ir a fundo nessa construção, mas sabemos da nossa responsabilidade pela governabilidade e, com muita transparência, vamos continuar defendendo a governabilidade, a aliança com o PMDB, que é fundamental para o país, sobretudo nesta Casa, tão difícil nas votações - disse Mercadante.

Mesmo com a determinação de Lula de enquadrar a bancada petista, pelo menos cinco senadores do partido ainda insistiam ontem em propor ao presidente a licença temporária de Sarney como a melhor solução para a crise: Marina Silva (AC), Tião Viana (AC), Flávio Arns (PR), Eduardo Suplicy (SP) e Paulo Paim (RS). O tom mais enfático foi de Marina Silva.

- Eu vou dizer isso pessoalmente ao presidente Lula. Está nas mãos do presidente Sarney fazer um gesto. A sugestão de afastamento temporário que fizemos foi por acreditar que ela, de fato, ajudará a resolver a crise. Sou persistente. Essa é a posição da bancada do PT - disse Marina.

Candidato derrotado à presidência do Senado, Tião Viana argumentou que a bancada tinha responsabilidade com o partido, com o Senado e com a governabilidade. Chegou a dizer que Mercadante traduzia o que classificou de "sentimento complexo" da bancada, mas cobrou publicamente que o presidente divida essa responsabilidade com os senadores.

- A bancada solicitou uma conversa com o presidente para dividir a responsabilidade. Que o presidente divida com o PT a responsabilidade deste momento que vive o Senado. É imprevisível o que vai acontecer. Existe a necessidade de governabilidade, e vivemos grave crise institucional no Senado. A bancada está na parede. Ela não teve a responsabilidade de eleger Sarney, mas tem que assegurar sua permanência, que terá um custo político para cada parlamentar do PT - disse Tião Viana. - A renúncia de Sarney seria uma tragédia para o governo. Esse é o dilema da bancada do PT. Mas a posição de afastamento está mantida. Será um choque com o presidente Lula.

"Todos somos responsáveis pela crise", diz Delcídio

Por outro lado, alguns senadores, capitaneados por Ideli Salvatti (PT-SC) e Delcídio Amaral (PT-MS), cobraram o compromisso dos colegas com a governabilidade.

- Temos que dar um voto de confiança à Mesa Diretora e ao presidente Sarney. Não temos mocinhos e bandidos. Todos somos responsáveis pela crise. Não podemos deixar de considerar a questão política. O partido que está no poder tem ônus e bônus. Não podemos deixar de ter em vista o processo eleitoral de 2010 e o que ele representa - disse Delcídio.

Líder do governo no Congresso, Ideli esteve no Palácio da Alvorada, onde o presidente Lula recebeu a equipe do Corinthians, tricampeã da Copa do Brasil. Ela reafirmou o compromisso da bancada com o governo.

- Tem duas coisas que o PT vai trazer para o presidente (à noite): a necessidade de mudança na estrutura do Senado e a necessidade de um pacto pela governabilidade - antecipou Ideli, afinada com Lula.

COLABOROU: Catarina Alencastro