Título: Empresas adotam o conceito Brics para crescer
Autor: Rosa,Bruno
Fonte: O Globo, 05/07/2009, Economia, p. 37

Companhias globais mudam gestão, investem nos 4 países emergentes e planejam criar vice-presidência para o bloco

Bruno Rosa

Os Brics ¿ grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China ¿ entraram definitivamente na agenda do mundo corporativo.

Companhias globais promovem encontros entre os dirigentes das quatro nações, cuja sigla, criada em 2001 pelo banco americano Goldman Sachs, resume o maior poder dos principais países emergentes. Para aproveitar esse crescimento, a estratégia inclui seminários sobre o tema e planos para a criação de vicepresidência mundial de Brics.

Companhias como Nivea, Bunge, Orange, Siemens e IBM, todas de tecnologia, além da Yahoo!, promovem os encontros com frequencia. Nas reuniões, os quatro países traçam o perfil de seus consumidores e alinham estratégicas conjuntas para impulsionar seus mercados. Muitas das vezes, a fórmula bemsucedida do Brasil é replicada em uma das três nações e viceversa.

A iniciativa já entrou na pauta dos governos: há mais de três semanas, os presidentes se reuniram em Ekaterinburgo, na Rússia, por dois dias.

Na Rússia, que contou com a participação dos presidentes, entre eles, Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, ficou acertada a criação do Conselho Empresarial dos Brics. Entre as corporações privadas, as alternativas também estão adiantadas. Segundo fontes, Microsoft, Novelis, de alumínio, além da Siemens, estudam a criação de vicepresidência global dos Brics.

Nivea faz encontros anuais nas cidades dos Brics

Na gigante alemã Nivea, já foram três reuniões, sempre anuais: em Moscou, em Pequim e em São Paulo. Segundo Nicolas Fischer, presidente da empresa no Brasil, o tema principal dos encontros é o consumidor. O objetivo, diz, é desenvolver os negócios nas nações. O resultado? Em três anos, a importância dos Brics no faturamento global pulou de 7% para 11%.

¿ Uma das discussões é o ponto-de-venda. Na Europa, um varejista consegue ter uma boa cobertura. Mas, entre os Brics, há muitas pequenas empresas.

Assim, conseguimos trocar experiências para aumentar a presença no país ¿ diz Fischer.

Um dos pontos altos do encontro é a visita às casas de consumidores locais: ¿ Na China, percebi que a preocupação é manter a pele sofisticada. Na Rússia, a procura é por ingredientes naturais. Na Índia, o consumo ainda é básico.

Nas reuniões, apresentei uma linha de sabonetes com ingredientes naturais do Brasil. O presidente da Rússia gostou da ideia e decidiu lançá-la por lá, com bons resultados hoje.

Na Orange, empresa de infraestrutura da France Telecom, a cada seis meses, os quatro países se reúnem com o Comitê Executivo da companhia para falar sobre novos negócios. Para Alexandre Gouvêa, vice-presidente mundial de operações, quando a reunião não acontece em alguma capital, o encontro é feito por teleconferência.

¿ Nesses encontros trocamse ideias em relação às diferentes formas de negociação e de seus protocolos, ajudando empresas globais com infraestutura a se expandir nesses mercados.

Com os Brics, criamos grandes centros de suporte de rede, o que foi replicados em outros países ¿ ressalta Gouvêa, lembrando que há três semanas os Brics foram tema de palestra no Orange Business Life, evento anual, em Londres.

Na Yahoo!, a troca de experiência entre os países resultou na implantação de uma plataforma de publicidade brasileira na Índia e no Sudoeste da Ásia.

Hoje, Brasil, Índia e Rússia são os três principais países dentro do grupo ¿Mercados Emergentes¿.

Na China, a companhia é apenas sócia do site Alibaba.

¿ As reuniões acontecem duas vezes por ano. Há seminários sobre os Bri, sem o ¿c¿, já que, na China, o mercado é complexo.

Os encontros vão ficar mais importantes, já que alguns mercado começam a ficar saturados ¿ diz Guilherme Ribenboim, ex-presidente da Yahoo! Brasil e hoje responsável por toda a América Latina.

Alexandre Fialho, diretor da consultoria Hay Group, acredita que o tema vai aumentar entre as empresas, já que os quatro países estão definindo a pauta mundial de comércio.

¿ Os países dos Brics estão investindo mais entre si. Mas é claro que ainda há concorrência entre eles, já que também disputam investimento.

Oi e Dafra selam parcerias com China e Índia

A Dafra, fabricante de motos, acaba de se associar com a indiana TVS para lançamento de novos modelos. A Oi (ex-Telemar) tem os chineses como seus principais fornecedores.

¿ Eles querem negócios na África e nós também. Essas aproximações são cada vez mais frequentes, assim como os intercâmbios ¿ diz Alex Zornig, diretor de finanças da Oi.

Para Marcelo Gil, da consultoria Accenture, a discussão, que inclui ainda troca de executivos entre os Brics, só vai aumentar. Na IBM, por exemplo, o Brasil já se reporta a China.

¿ Esse conceito permitiu aumentar o volume de negócios ¿ diz Marcelo Spaziani, vice-presidente da IBM.

Na Siemens, os encontros ganham força na crise.

¿ O status dos Brics cresceu.

Estamos pensando em fazer mais ações e investimentos em infra-estrutura ¿ aponta Antônio Corrêa de Lacerda, economistachefe da Siemens.

Wilson Rocha, presidente da TRW, de peças automotivas, teve ainda de alterar sua rotina de trabalho, com reuniões durante as madrugadas: ¿ Quando há um projeto global, os países dos Brics participam para permitir os ajustes locais, por exemplo.