Título: Crise encolhe bancos pequenos
Autor: Beck, Martha; Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 13/07/2009, Economia, p. 13

Estudo mostra diminuição de crédito e redução da concorrência

BRASÍLIA. Mesmo com as medidas anunciadas pelo governo brasileiro para garantir a solvência dos pequenos e médios bancos desde o ano passado, a crise atingiu em cheio essa parte do sistema financeiro. Tradicionalmente fortes no crédito consignado, em veículos e no middle (para pequenas e médias empresas), essas instituições perderam espaço para os grandes bancos, o que reduziu ainda mais a concorrência no mercado nacional.

É o que mostra um levantamento da EFC Engenheiros Financeiros e Consultores: o lucro do conjunto das dez principais instituições de pequeno e médio portes (ABC, Bicbanco, BMB, BMG, Cruzeiro do Sul, Daycoval, Fibra, Panamericano, Pine e Sofisa) encolheu 28% em 2008, em comparação com o ano anterior, saindo de R$ 1,67 bilhão para R$ 1,2 bilhão. Já o lucro dos pesos-pesados ¿ Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú e Santander ¿ subiu 15%, saindo de R$ 27 bilhões para R$ 31 bilhões.

Rentabilidade patrimonial das instituições menores caiu 34% Para Carlos Coradi, autor do estudo, a consolidação do processo de concentração é prejudicial às pessoas físicas e jurídicas, porque as pequenas e médias instituições ajudam a aumentar a eficiência do sistema, estimulando a concorrência. A referência se deve ao poder econômico dos dois grupos comparados: enquanto os ativos dos pequenos somam R$ 72,2 bilhões, os dos grandes alcançam R$ 2,3 trilhões: ¿ Porém, os pequenos e médios bancos são muito competitivos e conseguem oferecer taxas bastante acessíveis nos nichos onde eles atuam.

O gerente comercial do ramo de veículos e motos, Pérsio Adriane de Oliveira, contou que bancos como o Panamericano ¿ um dos maiores agentes financeiros no mercado de Goiânia nesse segmento antes da crise ¿ ainda está tendo uma atuação tímida e sendo mais seletivo na concessão do crédito, mesmo comportamento do Daycoval. Outros, como Omni e Cifra, citou, não estão aparecendo mais nas lojas: ¿ Agora está praticamente nas mãos dos grandes, como Finasa (do Bradesco) e Itaú. A vantagem era que os pequenos e médios ofereciam mais facilidades aos consumidores de baixa renda, que tinham dificuldades de passar na análise de crédito. Esses bancos recebiam até cheque pré-datado no pagamento das primeiras prestações, ou quando o cliente não tinha dinheiro para dar de entrada. Isso acabou.

Segundo Miguel de Oliveira, vicepresidente da Associação Nacional dos Executivos em Finanças (Anefac), com as medidas tomadas pelo governo, como autorização de venda de carteiras e ampliação de garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), os pequenos e médios bancos voltaram a ganhar fôlego, mas a situação somente deverá se normalizar no próximo ano.

O estudo revelou também que a rentabilidade patrimonial (o dinheiro do acionista) dos pequenos também caiu de 16,31% em 2007 para 10,69% no ano passado, queda de 34% ¿ o dobro da redução registrada pelo grupo das cinco maiores instituições. Já a rentabilidade dos bancos grandes caiu de 24,9% para 17,7%, o que representou uma redução de 17,7%.

Os grandes conseguiram minimizar os prejuízos ampliando as carteiras de crédito, tomando espaço dos pequenos e médios, que foram obrigados a se desfazer de suas carteiras. De acordo com o levantamento, enquanto os ativos totais dos grandes subiram 63% entre 2007 e 2008, saindo de R$ 1,44 trilhão para R$ 2,35 trilhões, nos pequenos e médios a alta foi de apenas 3,6%. O mesmo aconteceu quando se compara o volume de operações de crédito: os grandes conseguiram ampliar a carteira em 61% e os pequenos e médios, em apenas 6,3%.

Nas operações de longo prazo, os grandes ampliaram o volume em 62%, e os pequenos e médios, só em 4%.

Enquanto o patrimônio líquido dos grandes subiu 15%, o das pequenas e médias instituições cresceu 10%.

Tendência é que grandes bancos busquem mais ganhos de escala ¿ A crise atingiu mais fortemente os bancos menores. De um total de 150 bancos, entre nacionais e estrangeiros que operam no país, 12 dos 20 menores tiveram perda de rentabilidade, de setembro a março deste ano. Entre os 20 maiores, isso aconteceu somente com seis deles ¿ reforçou o professor da Universidade de São Paulo (USP), Alberto Matias.

Coradi disse que a tendência é que os grandes bancos busquem cada vez mais ganhos de escala para minimizar custos. Um exemplo é a fusão entre o Itaú e o Unibanco e a compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil.

Para o economista Roberto Troster, o problema começou antes mesmo da crise, no início de 2008, quando o governo, desconfiado da expansão do crédito, enxugou ainda mais os recursos em circulação, caso da cobrança de Impostos sobre Operações Financeiras (IOF) sobre leasing. Com a escassez de crédito, as dificuldades para os pequenos se agravaram. Isso é ruim porque os pequenos e médios são intensivos em mão de obra