Título: Neta pediu cargo para namorado
Autor: Carvalho, Jailton de; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 17/07/2009, O País, p. 4

Em grampo, filha de Fernando Sarney disse que vaga era da família

Grampos telefônicos feitos pela Polícia Federal com autorização judicial durante a Operação Boi Barrica mostram as ligações entre a família Sarney e o ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia. Segundo informou ontem o "Estado de S. Paulo", numa das gravações, a filha de Fernando Sarney, Maria Beatriz Brandão Cavalcanti Sarney, liga para o pai pedindo a nomeação de Henrique Dias Bernardes, que, segundo a PF, seria namorado dela. A nomeação seria feita na vaga de um outro agregado da família, Bernardo Brandão Cavalcanti Gomes, irmão de Beatriz por parte de mãe, que já estava na folha de pagamento do Senado desde 2003 e tinha pedido demissão. As conversas foram gravadas entre março e abril de 2008.

Segundo a reportagem, o argumento usado pela neta de Sarney foi o de que a vaga pertencia à família. O presidente do Senado também aparece nas conversas. Ele teria recebido orientação para que enviasse o currículo de Henrique Bernardes a Agaciel. O meio-irmão de Beatriz fora exonerado em 25 de março de 2008 e, por meio de um ato secreto assinado por Agaciel, Bernardes foi nomeado em 10 de abril.

A vaga era de assistente parlamentar 3, na Diretoria Geral do Senado. O irmão de Beatriz ficou no cargo por cinco anos, recebendo R$2,7 mil mensais. Em resposta ao jornal, Bernardes disse que faz serviços administrativos na área médica do Senado. Perguntado sobre como havia conseguido a vaga, ele mandou o repórter "perguntar na Secretaria de Recursos Humanos". Mas, em seguida, admitiu: "Cheguei através de indicação, mas não vou dar detalhes". O rapaz negou ser namorado de Beatriz. "Eu conheço a Bia por amizade, uma leve amizade".

Em outra conversa gravada, em 14 de março, João Fernando Michels Gonçalves Sarney, também filho de Fernando, liga para o pai pedindo dinheiro para comprar um carro novo. O pai reclama, dizendo que ele já recebia "7 mil e pouco" do Senado e mais R$5 mil, pagos pelo próprio Fernando Sarney.

João Fernando foi nomeado em fevereiro de 2007 como secretário parlamentar do gabinete do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA), aliado de Sarney. Ele ficou no cargo até outubro de 2008.