Título: Brasil e Honduras
Autor:
Fonte: O Globo, 21/07/2009, Opinião, p. 6

As negociações em busca de uma solução para a crise de Honduras fracassaram, mas o negociador, o presidente da Costa Rica e Prêmio Nobel da Paz, Oscar Arias, foi sábio o bastante para obter mais 72 horas antes de dar o diálogo como encerrado. A situação se agravou depois que o presidente golpista, Roberto Micheletti, recusou os sete pontos da proposta de Arias e o presidente constitucional, e deposto, Manuel Zelaya, considerou seu retorno ao país inegociável e a mediação, terminada.

Há duas vertentes na ação para restabelecer a legalidade em Honduras. De um lado, os EUA, a União Européia e vários países latino-americanos aumentaram a pressão sobre o governo golpista para que negocie o retorno de Zelaya, que cumpriria o fim de seu mandato. A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, falou por telefone com Micheletti a fim de chamar sua atenção para as consequências do fracasso das negociações. A União Europeia suspendeu a ajuda econômica ao país, e governos latino-americanos advertiram que poderá haver um banho de sangue no país se os golpistas não recuarem.

De outro lado está a corrente bolivariana, comandada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que atua para reinstalar no poder seu aliado. Partem dali os planos mirabolantes para Zelaya retornar ao país e, não se sabe como, recuperar o poder. Das duas, uma: ou ele e os bolivarianos estão blefando ou têm uma estratégia para recolocar o presidente deposto, não no poder, mas no país. O que certamente resultará num banho de sangue, pois o Exército hondurenho apoia o governo golpista.

Esta seria, com certeza, a pior opção. A única possível é insistir na negociação conduzida por Oscar Arias, em nome da Organização dos Estados Americanos (OEA), pressionando Micheletti e Zelaya para que aceitem um acordo. O Brasil, por seu peso na América Latina e suas boas relações com o presidente Chávez, pode e deve ter um papel mais atuante para convencê-lo a desistir de aventuras na América Central e, com seu indiscutível prestígio na região, contribuir para o sucesso da missão de Arias.