Título: Gerente dos contratos suspeitos já foi alvo de denúncias na Bahia
Autor: Franco, Bernardo Mello ; Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 23/07/2009, O país, p. 8

Petrobras anunciou demissão, mas Geovane está apenas licenciado

No Sindicato dos Telefônicos da Bahia, a menção do nome de Geovane de Morais, exgerente de Abastecimento da Petrobras, causa calafrios. Ele está, há dez anos, na mira da entidade por envolvimento em suposto golpe aplicado em centenas de funcionários da antiga Telemar. O mesmo Geovane, agora, pode ser demitido por justa causa da Petrobras, por estourar o teto orçamentário de sua gerência com contratos suspeitos ¿ embora a empresa tenha anunciado a demissão, ele só está afastado por licença médica.

Ex-diretora de Saúde do Sindicato, Edla Gonçalves Rios disse que a entidade, no fim dos anos 90, denunciou Geovane e o médico Roberto Charles Góes ao Ministério Público e à Polícia Federal por ludibriar funcionários da Telemar Norte Leste afastados por problemas médicos.

Geovane e Roberto, segundo Edla, eram sócios no Pericial, consultório de perícias contratado pela Telemar. Com a ajuda de funcionários do INSS, a empresa convocava os telefônicos licenciados para receber alta médica e passar por um programa de reabilitação na Telemar ¿ que acabava de ser privatizada.

¿ Todos foram enganados.

Em vez da reintegração, o que os esperava era a demissão ¿ lamentou a sindicalista.

Na ocasião, o sindicato apurou que Roberto se aproveitou da condição de médico conveniado do INSS para mandar cartas de solicitação de altas médicas aos trabalhadores da ex-Telebahia (Telemar). A Pericial tinha a lista dos afastados fornecida pela telefônica.

¿ Fui atrás deles e descobri o esquema. A pedido do Ministério Público, a Polícia Federal iniciou uma investigação, mas até hoje não sabemos que fim levou ¿ disse Edla.

Embora sócio da Pericial, Geovani já atuava como assistente social na Refinaria Land u l p h o Alves Mataripe (RLAM). Com a denúncia do sindicato, endossada na época pelo então deputado Walter Pinheiro (PT-BA), deixou a área de Saúde da refinaria para assumir a gerência de Comunicação Social.

De uma denúncia à outra (a do ano passado, que levou a Petrobras a decidir pela demissão por justa causa), a carreira de Geovane deu um salto: de chefe de unidade, ele passou a gerenciar a Comunicação do setor de Abastecimento, incluindo todas as refinarias da estatal e duas fábricas de fertilizantes.

Colegas do gerente atribuíram a promoção de Geovane a ações do movimento sindical petroleiro na Bahia. Ele teria ligações com o deputado federal Luiz Alberto ¿ a mulher de Geovane, também funcionária, doou dinheiro para a campanha de Luiz ¿ e com o vereador Moisés Rocha, ambos petroleiros e filiados ao PT.

Geovane contratou três empresas suspeitas no Rio Na Comunicação do Abastecimento, Geovane tinha orçamento de R$ 31 milhões no ano passado, mas fez pagamentos de R$ 151 milhões, incluindo contratos com a R. A.

Brandão, Guanumbi e Sibemol, a empresas que não funcionam nos endereços declarados à Receita Federal.

O médico Roberto Góis, procurado pelo GLOBO, disse que as denúncias do sindicato são infundadas e nunca foram comprovadas. Geovane não foi localizado. (C.O.)