Título: De TVs de plasma ao evento da laranja
Autor: Franco, Bernardo Mello ; Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 23/07/2009, O país, p. 8

CPI da Petrobras analisa repasses a empresas que, no total, receberam R$ 18,2 milhões apenas em 2008

Bernardo Mello Franco, Chico Otavio e Maiá Menezes

BRASÍLIA e RIO. A exemplo das firmas registradas em nome de Telma de Almeida Brandão e seus filhos Raphael e Luiz Felipe ¿ que receberam R$ 12,4 milhões no total ¿, outras duas empresas receberam R$ 5,8 milhões da Petrobras a título de pagamento por serviços variados, que vão de aluguel de TVs de plasma ao apoio ao ¿evento da laranja¿ em Tanguá.

A CPI da Petrobras vai analisar os repasses, que beneficiaram a R.A. Silva Cabral Produções Artísticas e a M. de A. Caldas Promoções e Eventos.

Os pagamentos foram liberados ao longo do ano passado pela gerência de Comunicação do Abastecimento da estatal. A R.A. Brandão, a Guanumbi Promoções e Eventos e a Sibemol Promoções e Eventos receberam, juntas, R$ 12,4 milhões da área de Abastecimento da Petrobras em 2008.

A coincidência: o dono da R.A. Silva Cabral, Rodrigo Azevedo Silva Cabral, tem outra empresa, a Rio Rodin Produções e Eventos, que, segundo a Junta Comercial, funciona no mesmo endereço da Guanumbi Produções Artísticas e da R.A. Brandão, empresas de propriedade de Telma e Raphael Almeida Brandão. No local, em Jacarepaguá, visitado pelo GLOBO no domingo, mora uma família que não conhece Telma nem Raphael.

Na Rodin, Rodrigo foi sócio, até 2001, de Luiz Felipe de Almeida Brandão ¿ sócio com Raphael da Sibemol.

A Guanumbi e a R.A. Brandão receberam, juntas, R$ 8,2 milhões.

A Sibemol, R$ 4,2 milhões.

Esse total se refere apenas à área de Comunicação do setor de Abastecimento. A Sibemol recebeu ainda R$ 120 mil para realizar um projeto chamado Quilombos Cariocas, cuja prestação de contas está disponível no site da Petrobras.

Planilha mostra 77 projetos, entre festas e aluguéis de TV Uma planilha em poder da CPI mostra que a R.A. Silva Cabral e a M.A. Caldas receberam verbas para 77 projetos diferentes ao longo de 2008. A mais acionada foi a R.A. Silva Cabral, que apresentou à Petrobras 50 notas fiscais no valor total de R$ 3,13 milhões. Os valores oscilam entre R$ 645 por um ¿serviço fotográfico¿ e R$ 160 mil a título de ¿produção de evento de relacionamento com o cliente¿ na Refinaria Abreu e Lima ¿ cuja construção é investigada por superfaturamento no Tribunal de Contas da União.

A lista de serviços que teriam sido prestados pela R.A. Silva Cabral é encabeçada pela decoração de uma festa de funcionários, em dezembro de 2007, por R$ 1 mil. Nove dias depois, a empresa encaminharia à estatal uma outra nota de R$ 2,1 mil, desta vez referente ao aluguel de TVs de plasma para uma campanha interna intitulada ¿Líderes e Equipes¿.

No mês seguinte, a firma recebeu R$ 4 mil por ¿Serviços de RSVP¿ ¿ o trabalho de secretárias que ligam para confirmar a presença de convidados em um evento. Em fevereiro, a planilha registra o pagamento de R$ 21,5 mil por ¿serviços de relações públicas no carnaval¿. Outras três notas tratam da participação da Petrobras na folia do Rio e de Salvador.

Os recibos de pagamento também incluem serviços com descrições genéricas, como ¿Apoio a evento¿. A expressão se repete em três notas, de fevereiro (R$ 29,7 mil), junho (R$ 8,7 mil) e agosto (R$ 10,8 mil). Numa mesma data, 24 de julho, a empresa carimbou recibos a título de ¿Consultoria em adaptação de projeto para inscrição em prêmios¿ (R$ 17,6 mil) e ¿Organização e planejamento de evento¿ (R$ 34,4 mil).

Repasses também para samba em universidade A M.A. Caldas emitiu 27 notas fiscais no valor total de R$ 2,75 milhões. A lista inclui itens como ¿Serviços prestados no projeto Samba na Universidade¿ (R$ 140 mil) e ¿Serviços de coordenação e produção de audiências públicas em Guararema¿ (R$ 145,7 mil). Em setembro, a empresa emitiu uma nota de R$ 135,3 mil com a seguinte identificação: ¿Apoio ao evento da laranja de Tanguá segunda parcela¿. O primeiro pagamento não aparece na planilha enviada à CPI.

Nos registros da Receita Federal, a R.A. Silva Cabral aparece como empresa especializada em prestação de serviços de informação, agenciamento de profissionais para atividades esportivas, culturais e artísticas e até gravação de carimbos, além de outros quatro tipos de atividades. A M.A. Caldas se identifica como uma empresa do ramo teatral, com atuação em espetáculos, sonorização e iluminação e aluguel de palcos e coberturas. Ambas declaram funcionar no Rio. Os responsáveis pelas firmas não foram localizados ontem.

Em nota, a assessoria da Petrobras repetiu ontem que cabe à prefeitura fiscalizar a concessão do alvará de funcionamento das empresas que prestam serviço à estatal e que essa resposta não significa ¿responsabilizar a prefeitura por contratos¿. A companhia estranhou ainda as perguntas do GLOBO sobre Raphael de Almeida Brandão. Segundo a nota ¿a Petrobras não pode ser responsabilizada pelo fato de o jornal não ter localizado o empresário¿.