Título: Analfabetismo caiu de 33% para 10% no país
Autor: Melo, Liana; Martin, Isabela
Fonte: O Globo, 23/08/2009, Economia, p. 32

Brasil está perto da universalização do ensino básico, mas ainda tem 14 milhões que não sabem ler nem escrever

RIO e FORTALEZA. Apesar dos avanços, um em cada dez brasileiros com mais de 15 anos é analfabeto. É uma taxa de analfabetismo de 10%, que soma no país 14,1 milhões de jovens e adultos, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2007. Mas estes números já foram maiores.

Em 1970, 33,6% desta parcela da população não sabiam ler nem escrever.

Ao longo dos últimos 40 anos, o Brasil fez a transição de um regime militar para uma democracia. Em maior ou menor grau, os nove presidentes que passaram por Brasília enfrentaram o analfabetismo.

Mas nenhum deles conseguiu erradicá-lo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que comprometeuse no primeiro mandato a acabar com o analfabetismo até 2006, também fracassou.

Hoje, essa mazela tem endereço e identidade conhecidos: 52% das pessoas vivem no Nordeste e 40,1% delas têm mais de 60 anos. Não bastasse ser uma herança maldita, o analfabetismo é um fenômeno que, em alguns casos, chega a atingir diferentes gerações de uma mesma família.

Qualidade do ensino é um dos maiores desafios É o caso dos Oliveira, no Ceará. Na família de Maria José, de 71 anos, dois filhos não assinam sequer o próprio nome e cinco deles só escrevem textos curtos. A exceção fica por conta de duas filhas, que concluíram o ensino médio. A sina da matriarca atingiu os netos Ana Cristina, 14 anos, Alex, 11 anos, e Aclécio, 10 anos. Eles até frequentam a escola, mas só assinam o próprio nome. São a cara do analfabetismo funcional.

O analfabetismo é apenas uma das facetas do problema da educação no país, já que o Brasil praticamente atingiu a universalização do ensino básico: 97,68% das crianças, de 7 a 14 anos, estão na escola. No anos 70, apenas 32,6% dos brasileiros nessa faixa etária frequentavam os bancos escolares.

Rompida essa barreira, resta agora enfrentar um dos maiores desafios: a qualidade do ensino.

É nas provas que o aluno brasileiro, ao ser confrontado com seus pares lá fora, deixa evidente o tamanho do problema.

O Brasil ficou em 54olugar entre os 57 países que fizeram a prova de matemática do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, sigla em inglês). Nossos jovens ficaram à frente apenas dos da Tunísia, Catar e Quirguistão.

Em literatura, o país ficou na 49aposição e em ciências, em 52alugar. A prova é uma iniciativa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

¿ Daqui a 20 anos, o ensino fundamental será irrelevante.

É preciso levar a sério à corrida educacional. Já estamos atrasados em relação a outros países. No Brasil, só 10% dos trabalhadores, com menos de 45 anos, têm curso superior ¿ analisa o ex-coordenador do Centro Internacional de Pobreza das Nações Unidas Marcelo Medeiros, do Ipea.

Brasil perde para Cuba e Argentina na universidade No Brasil, a taxa de escolarização bruta no ensino superior ¿ ou seja a razão entre o número de matrículas e a população na faixa etária que deveria estar cursando este nível de ensino ¿ é de 24%. Segundo o coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper (antigo Ibmec, de São Paulo), Naércio Castellar, na Coreia, a taxa é de 91%, em Cuba, de 88%, e na Argentina, de 65%.

Castellar está convencido que, se o investimento em educação continuar em torno de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), o Brasil vai perder competitividade lá fora.

Já o ex-ministro da Educação do governo Lula, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), prefere criticar a qualidade do gasto.

¿ A torneira que alimenta o analfabetismo continua aberta.

O presidente do IBGE, Eduardo Nunes, está convencido de que o país hoje tem mais educação formal do que no passado, só que o mercado de trabalho ¿não é mais tão absorvedor de mão-de-obra¿ como era na época do milagre