Título: A maratona dos pacientes no Piauí
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 05/09/2009, O País, p. 4

Para conseguir marcar consulta, eles têm que enfrentar duas filas

TERESINA. Era meio-dia e um grupo de pacientes do Sistema Único de Saúde estava na fila para atendimento médico desde as 5h da madrugada. Eles só seriam atendidos a partir de 16h numa clínica oftalmológica no Centro de Teresina, credenciada pelo SUS. Todos já tinham marcado suas consultas há dez ou 15 dias num posto de saúde ou hospital na periferia de Teresina.

Quando foram marcar consultas, tinham também enfrentado filas a partir de 5h.

Ananias Rodrigues da Cruz disse que ficou na fila para conseguir uma consulta para o filho de 7 anos, que tem problemas de aprendizado na sala de aula por problemas na visão.

¿ Marquei a consulta no dia 28 de agosto. Precisei chegar às 5h no posto de saúde de meu bairro. A consulta era para ser hoje (ontem) às 8h, mas, quando cheguei, às 5h, só tinha vaga para marcar novamente às 12h, para ser atendido às 16h. Isso sem almoçar. Se sair, perco o lugar na fila ¿ disse Ananias.

O relato não está errado: é mesmo preciso enfrentar fila duas vezes para ser atendido em Teresina: ¿ Não se encontra os médicos nos hospitais e postos de saúde. O jeito é chegar de madrugada para marcar a consulta no posto de saúde e, depois, marcar novamente quando se chega na clínica. Isso é um abuso ¿ disse a promotora de vendas Fátima Andrea Bezerra, que chegou na clínica às 5h.

Não bastassem os problemas de falta de recursos e gestão ineficiente, relatório de auditoria do Departamento Nacional de Auditoria do SUS (Denasus) e da Controladoria Geral da União (CGU) constatou fraudes contra o SUS que chegam a R$ 1,136 milhão no estado apenas no primeiro semestre deste ano.

A prática mais comum é o encaminhamento de pacientes de hospitais públicos para particulares credenciados, com uma especificação falsa do problema de saúde ou ainda superfaturamento de procedimentos médicos.

Segundo o relatório, hospitais tentam receber do SUS por procedimentos que não realizaram.

Uma combinação entre alguns médicos, que usam diferentes carimbos para evitar que um único profissional apareça como responsável pelos encaminhamentos, permite a concretização da fraude. Nas auditorias realizadas pelo Denasus, há casos também de envolvimento de ex-prefeitos e diretores de hospitais.