Título: Competitividade em alta
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 09/09/2009, Economia, p. 17

Brasil ganha oito posições, para 56º, em ranking do Fórum Econômico Mundial

Entre 133 países, o Brasil foi o que mais avançou posições no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial. Em meio à crise financeira global, o país pulou da 64ª posição para o 56º lugar, superando vizinhos como o México. E foi justamente o fato de o Brasil ter saído mais rapidamente da crise que garantiu seu avanço no ranking, na avaliação dos organizadores da pesquisa.

Entre os grandes emergentes dos Brics, o Brasil ultrapassou a Rússia, que caiu 12 posições, para o 63º lugar, e reduziu a distância competitiva em relação à China e Índia, que avançaram apenas um posto cada uma, para 29º e 49º, respectivamente.

- O Brasil é destaque não só pelo crescimento, mas também pelo potencial que o país tem de sair da crise melhor do que quando entrou - avalia Carlos Arruda, professor da Fundação Dom Cabral (FDC), instituição responsável por compilar os dados no Brasil. - O país vai sair da crise melhor junto a Índia, China, Austrália e Canadá. Países como Noruega e Hong Kong vão sair iguais, enquanto todos os outros vão sair pior.

Suíça desbanca os EUA da liderança

O primeiro lugar do Relatório de Competitividade 2009 foi a Suíça, que, pela primeira vez, desbancou os Estados Unidos, que vinham ocupando a liderança desde 2004, mas perderam o posto devido aos problemas gerados pela crise financeira global. No quesito que avalia a solidez dos bancos, por exemplo, os EUA ficaram na 108ª posição e a Suíça, em 44º lugar. Mas, apesar da dança das cadeiras na liderança do ranking, o relatório mostra que a crise não provocou grandes mudanças nas posições dos outros dez primeiros colocados da lista.

No caso do Brasil, apesar da melhora, o país ainda está longe de uma liderança regional, tendo ficado o primeiro lugar da América Latina com o Chile. Em 2004, primeiro ano de divulgação do relatório, o Brasil chegou a ocupar a 49ª posição, mas o número de países avaliados era menor e a metodologia usada pelo Fórum era diferente.

Os fatores que mais contribuíram para a melhora de posição do Brasil no ranking foram a estabilidade macroeconômica e a sofisticação do mercado financeiro - o país ganhou 13 posições em ambos os indicadores, passando para o 109º e 51º lugar, respectivamente. Também pesou a favor do Brasil o fato de o país ter se tornado credor externo (ou seja, ter mais dólares em reserva do que o total de sua dívida externa).

O país também melhorou sua colocação no índice de eficiência do mercado de trabalho, onde ganhou 11 posições, passando a ocupar o 80º lugar.

Ao analisar o ambiente de negócios de cada um dos países perfilados, o Brasil, apesar de ter assumido uma posição de destaque no relatório, apresenta vulnerabilidades consideradas crônicas. Os principais gargalos vão da falta de ética na gestão pública e desconfiança da classe política à dificuldade de avançar em reformas estruturais, como a tributária, passando pela má qualidade da educação.

- Como ainda não desoneramos amplamente as exportações, oferecemos um ambiente anticompetitivo para o empresariado - avalia o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, admitindo, com ressalvas, que o resultado global do relatório é digno de comemoração. - Precisamos urgentemente aprimorar o padrão da gestão pública, que não chega aos pés da do setor privado.

Para o diretor executivo da Transparência Brasil, Claudio Weber Abramo, não há justificativa para o relatório incluir um quesito sobre gestão pública, já que se trata de uma avaliação subjetiva, e não feita com base em dados estatísticos. Neste quesito, o país está numa das piores posições: 131º lugar.

País é 131º em "spread" bancário

O diretor de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Ricardo Roriz, concorda com Abramo, antecipando que a entidade vai divulgar, na próxima semana, seu próprio indicador de competitividade.

O Brasil também foi mal avaliado, pelo Fórum Econômico, no critério spread bancário (diferença entre os juros pagos pelos bancos ao captar recursos e a taxa cobrada dos consumidores). Nesse quesito, o país já estava no fim do ranking no ano passado, na 128ª posição, e agora caiu ainda mais, para o 131º lugar.

- O Brasil pratica um spread 6,2 vezes maior que a taxa média dos 42 países responsáveis por 95% da economia mundial - critica Roriz, citando dados que vão estar no indicador de competitividade da Fiesp.

Em nota, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirmou que "as comparações de spreads entre países são falhas devido a diferenças de regulamentação bancária, direitos de propriedade, tributação, padrões contábeis, entre diversas outras variáveis".