Título: PT recua em relação a código de ética
Autor: Brígido, Carolina e Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 27/08/2007, O País, p. 4

Texto preliminar proibiria ex-membros do governo de dar consultoria privada.

SÃO PAULO. Com a possibilidade de punição interna aos responsáveis pelo escândalo do mensalão sepultada após inúmeras tentativas, o PT agora recua também do texto que previa a criação de um código de ética para o partido. A proposta foi mantida, mas em termos muito mais brandos do que os originais.

Um texto preliminar, escrito pelo grupo Mensagem ao Partido, ligado ao ministro da Justiça, Tarso Genro, determinava pontualmente em dez artigos proibições e punições em relação a temas como financiamento de campanhas e uso de informações privilegiadas do governo para atividades particulares, como assessorias e consultorias. A proposta seria apresentada no 3º Congresso Nacional do PT.

O texto foi substituído por outro, mais genérico, que indica apenas a necessidade de criação de comissões para implantação do código de ética e de uma corregedoria interna, sem especificar punições e proibições.

Mais um embate entre Tarso Genro e José Dirceu

O motivo do recuo foi a forte reação ao artigo 5º do texto preliminar, que proibia os petistas que ocuparam cargos no governo de darem consultoria a empresas privadas e pessoas físicas por tempo indeterminado. O artigo foi considerado mais um round na disputa interna entre Tarso e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que é consultor desde que deixou o governo.

- Eles (o grupo Mensagem) fizeram a proposta de um jeito meio enviesado, e a resposta veio do mesmo jeito - disse o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, líder da Articulação de Esquerda.

Pomar defende a adoção de um código de ética, mas acredita que o 3º Congresso Nacional não seja o foro adequado para a decisão.

- O ideal seria que isso fosse discutido pelo diretório nacional e depois submetido ao restante do partido.

Segundo o secretário-geral do PT, Joaquim Soriano, um dos líderes do grupo Mensagem, o texto foi alterado para se tornar mais palatável a todas as correntes do partido e eliminar resistências.

- A idéia é justamente apresentar uma proposta a que ninguém possa se opor.

Segundo Soriano, a criação de comissões de ética para os acusados de envolvimento no mensalão foi descartada.

- Tentamos oito vezes e não conseguimos - lembrou.

Escândalos serão abordados de forma superficial

Para setores do partido, a criação do código de ética e da corregedoria poderiam ajudar na prevenção contra novos escândalos.

O deputado estadual Rui Falcão (SP), líder do grupo Novo Rumo, destacou outra dificuldade para que o congresso debata a questão ética.

-Se formos falar do mensalão, também teremos que tocar no dossiê Vedoin e isso torna a visão das coisas um pouco mais complexa.

Os escândalos do mensalão e do dossiê devem ser abordados de forma superficial nas avaliações sobre as crises de 2005 e 2006.