Título: Valor alto surpreende
Autor: Vaz, Lúcio; Luiz , edson
Fonte: Correio Braziliense, 13/04/2009, Política, p. 4

Parlamentares defendem viagens, mas se espantam com os R$ 18,6 mi liberados para entidades que organizam intercâmbio de congressistas. Alves defende entidade: ¿A União é um grupo sério¿

Carlos Moura/CB/D.A Press - 3/9/07 Demostenes: ¿Acho muito grande a quantia¿ Líderes dos maiores partidos no Congresso defenderam ontem a importância das viagens de intercâmbio parlamentar, mas salientaram que possíveis abusos devem ser punidos. Causou espanto o volume de recursos liberado pelo Congresso para as entidades privadas que financiam as viagens, cerca de R$ 18,6 milhões (em valores atualizados) nos últimos 10 anos. O levantamento feito pelo Correio foi avaliado como uma oportunidade para que a Câmara e o Senado avaliem se os resultados têm sido produtivos.

Reportagem publicada ontem mostrou que o dinheiro repassado pelo Congresso cobriu despesas com diárias e passagens aéreas internacionais, anuidades e organização de eventos. Só a Associação Interparlamentar de Turismo consumiu R$ 3,3 milhões. A entidade que mais recebeu recursos foi o Grupo Brasileiro da União Interparlamentar. Foram R$ 8,9 milhões. O Grupo Brasileiro do Parlamento Latinoamericano ficou com R$ 6,2 milhões. O ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP) cortou drasticamente o financiamento desses grupos a partir de 2007, por considerar as viagens improdutivas.

O senador Demostenes Torres (DEM-GO) disse que não conhecia o volume de recursos liberados pelo Congresso para as associações de intercâmbio. ¿As viagens dos parlamentares tradicionalmente existem em quase todo o mundo, mas acho muito grande a quantia liberada para as entidades¿, afirmou o líder do Democratas. ¿Entre os países que fazem intercâmbio, o Brasil deve ser o que paga mais caro.¿ Demostenes defendeu uma espécie de pente-fino nos pedidos e nas liberações. ¿Tem que ver o que é mais importante para o país e para o Congresso. Acho que o dinheiro tem que ser repassado diretamente para o deputado ou senador, sem a intermediação de nenhuma entidade¿, acrescentou o senador.

¿Erros e abusos¿ O líder do PT na Câmara, Cândido Vacarezza (SP), defende as viagens de seus colegas parlamentares, ressaltando que elas ajudam a estreitar as relações do Brasil com outros países. Vacarezza cita o exemplo da China, com a qual o país tem fortes relações comerciais atualmente, e a aproximação com o Irã. ¿Existem erros e abusos, que quando acontecem, devem ser apurados, julgados e punidos. Mas as viagens dos deputados são importantes para fazer os contatos com os parlamentos de outros países, principalmente pela dimensão do Brasil¿.

O líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), afirmou que, em princípio, ¿as viagens acrescentam conhecimentos e experiências aos parlamentares¿, mas disse que o levantamento realizado pelo Correio ¿é uma oportunidade para a Câmara avaliar (as viagens) e realmente ver se o resultado tem sido produtivo¿. Uma sugestão feita por Aníbal é a prestação de contas e a entrega de informações pelo viajante sobre os resultados obtidos. ¿Em 1996, fiz uma viagem para as Nações Unidas (ONU), da qual decorreu um projeto de lei sobre direitos humanos. Eu considero que a viagem teve um resultado prático¿, exemplifica.

O vice-líder do PSB na Câmara, Rodrigo Rollemberg (DF), tem opinião semelhante. ¿O deputado poderia apresentar um relatório minucioso do que viu, mas que esse intercâmbio é positivo, não tenho dúvidas.¿ Ex-presidente da União Interparlamentar, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), defendeu apenas a sua entidade. ¿A União é um grupo sério. Foi presidida pelo doutor Ulysses (Guimarães), hoje é presidida pelo senador Efraim Morais (DEM-PB). Realiza um ou dois eventos por ano. Um deles é a participação na Assembleia da Organização das Nações Unidas. Nossos parlamentares sempre têm participação destacada, vão ao plenário dos encontros. Os outros (grupos) eu não sei.¿