Título: Após 4 meses, o júri secreto
Autor: Lima, Maria e Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 12/09/2007, O País, p. 3

DIA D NO SENADO

Dividido, Senado vota hoje pedido de cassação de seu presidente, Renan Calheiros.

Os principais partidos de oposição, PSDB e DEM, tentaram enquadrar seus 30 senadores para que todos votem hoje pela cassação do mandato do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), na sessão secreta que começará às 11h. Mas a decisão sobre o futuro de Renan não divide os partidos entre governistas e oposição, como gostaria o presidente do Senado. O grupo que apóia o relatório de Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS) admite que não será fácil chegar aos 41 votos necessários para a cassação. Haveria uma chance se os 13 senadores do PSDB e os 17 do DEM seguissem a orientação dos partidos, o que não deve acontecer. Pela contabilidade de partidos, o placar ontem era de 37 votos pela cassação, contra 45 pela absolvição.

PT libera voto; PSDB fecha pela cassação

A liderança do PT não fechou questão. Liberou a bancada, que está dividida, com seis senadores pró-Renan e seis contra.

- Cumprimos a missão com muita seriedade. Com base em documentos, comprovamos oito quebras de decoro parlamentar. Mas não será fácil cassar Renan - avaliou Casagrande.

O relator admite que a votação em plenário terá muitos componentes que podem influenciar o resultado pró-Renan, inclusive pressões:

- Possibilidade de represálias há. Tem muita gente aqui que já miou, que entrou no processo como Lampião e deve sair como Maria Bonita.

A direção do DEM decidiu recomendar a cassação, mas não fechou questão. Todos os 16 presentes à reunião do partido assumiram o compromisso de votar pela perda de mandato. O único ausente foi Edison Lobão (MA), considerado voto favorável a Renan.

- O partido espera contar com todos. A instituição está em xeque. É uma luta de autopreservação da Casa, de recuperação da imagem do Senado, e não caracteriza uma guerra de oposição contra governo - disse o líder Agripino Maia (DEM-RN).

Pela contabilidade da tropa de choque de Renan, dos 17 senadores democratas, pelo menos seis apareciam como favoráveis à absolvição.

O PSDB fechou questão, recomendando o voto pela cassação, mas abriu uma brecha ao liberar "para votar de acordo com sua consciência" o alagoano João Tenório, que assumiu a vaga do atual governador de Alagoas, Teotônio Vilela, aliado de Renan.

- O PSDB entende que, sem alegria e com dor, está de um lado do jogo a sorte de um senador e do outro o futuro da instituição, que não pode ser desmoralizada. Serão 12 votos, a única exceção aberta foi para o senador João Tenório - anunciou o líder do partido, Arthur Virgílio (AM).

A reunião da bancada do PT não resultou em fechamento de questão ou orientação de voto. A líder Ideli Salvatti ironizou a decisão de PSDB e DEM:

- Orientar e fechar questão com voto secreto é jogo de cena - disse.

A percepção dos tucanos ontem era de que a situação de Renan teria se complicado nas últimas horas, reduzindo significativamente as chances de absolvição. Para Virgilio, se o presidente do Senado não for cassado, a crise na instituição prosseguirá:

- Será uma votação apertada. Não consigo imaginar a hipótese de que ele (Renan) fique na presidência. Se isso ocorrer, a sensação que teremos é de que a crise continuará.

Heloísa Helena volta para a acusação

O julgamento de Renan trará de volta à cena política e à tribuna do Senado a ex-senadora Heloísa Helena. Como presidente do PSOL e uma das signatárias da representação que resultou no pedido de cassação, ela foi escolhida para fazer a defesa no plenário pelo partido. Os defensores da cassação temem que a eloquência de Heloísa Helena e o fato de ela ser adversária de Renan em Alagoas sejam interpretados como uma picuinha local.

- Estou preocupado. Vou falar com ela. Isso pode ser visto como questão de ódio local. Nada foi mais antipático e nojento do que o José Sarney presidindo a sessão de cassação do João Capiberibe, sendo os dois adversários no Amapá - avaliou Virgilio.

- Foi uma decisão partidária. Será uma argumentação técnica - disse a ex-senadora.