Título: PIB movido a indústria
Autor: Barbosa, Flávia e Danielle Nogueira
Fonte: O Globo, 13/09/2007, Economia, p. 25

SEGUNDO ATO

País cresceu 5,4% no 2º trimestre, puxado por produção maior nas fábricas. Investimento é recorde.

Com investimentos de R$111,754 bilhões, refletindo-se sobretudo numa expansão de 6,8% da indústria, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) acelerou entre abril e junho de 2007, registrando uma alta de 5,4% na comparação com o mesmo período do ano passado. Trata-se do maior crescimento desde o segundo trimestre de 2004, retomando, após algumas oscilações, o patamar de produção do melhor ano que o Brasil experimentou até agora nesta década.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, telefonou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em viagem à Europa, na noite de terça-feira, para dizer que o resultado do PIB seria elevado. Por volta de 1h da madrugada de ontem, enviou e-mail a Lula com um resumo dos dados. O presidente, que desde o início de seu primeiro mandato promete um "espetáculo do crescimento", comemorou.

A alta foi de 0,8% frente ao primeiro trimestre, de 4,9% no semestre e de 4,8% em 12 meses - nos dois últimos casos, a variação também foi a mais elevada em três anos. Em valores, o Brasil gerou R$630,2 bilhões entre abril e junho, encerrando o semestre com um PIB de R$1,226 trilhão.

Consumo das famílias avançou 5,7% no período

O desempenho foi ajudado ainda pela manutenção em patamares elevados da atividade do setor de serviços (4,8% no segundo trimestre, contra 4,6% no primeiro), e do consumo das famílias (5,7% contra 6%). Outra contribuição positiva foi a dos impostos, com alta de 8,6%.

Com o empresariado, sobretudo, aplicando recursos para ampliar a produção, o Brasil atingiu também, no segundo trimestre deste ano, a maior taxa de investimento (como proporção do PIB) da nova série histórica das contas nacionais, iniciada em 2000: 17,7%. No entanto, a marca ainda está distante dos 25% considerados ideais para nações em desenvolvimento.

- Se olhamos 2004, o que vemos é que, àquela época, o investimento estava alto, mas o consumo, mais baixo do que hoje. Além disso, a participação do setor externo (exportação) era muito elevada, e caiu à metade. Apesar de terem crescido (13%), as exportações agora têm peso menor. Ou seja: está consolidado, depois de três semestres, que a expansão do PIB é sustentada pelo mercado interno - avaliou Roberto Olinto, coordenador de Contas Nacionais do IBGE.

Essa engrenagem está bem clara nos dados do IBGE. O investimento (Formação Bruta de Capital Fixo) apresentou crescimento, pela 14ª vez seguida, de 13,8% entre abril e junho, perdendo na década apenas para os 14% do mesmo período de 2004. Segundo Rebeca Palis, gerente de Contas Trimestrais do IBGE, a redução de três pontos percentuais na taxa média de juros entre 2006 e 2007 e o aumento de 23% no volume de crédito para pessoas jurídicas deram o empurrão.

O governo federal acrescenta à fórmula as desonerações de bens de capital promovidas nos últimos anos, segundo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. No front externo, a importação, com alta de 18,7% no trimestre, contribuiu com o forte ingresso de máquinas, insumos para metalurgia, peças, acessórios e produtos químicos.

Nesse cenário, a indústria respondeu mais do que dobrando o ritmo de produção entre o primeiro e o segundo trimestres - passando de expansão de 3% para 6,8%. Foi o melhor resultado desde os 11,5% do segundo trimestre de 2004. Os segmentos que mais se destacaram também são os que mais respondem a investimentos no parque industrial.

A indústria de transformação (eletroeletrônicos e automóveis, por exemplo) cresceu 7,2%, após uma alta de apenas 2,7% entre janeiro e março deste ano. Já a construção civil - em ciclo histórico de crescimento - ficou em 2,4% nos primeiros três meses de 2007 e, entre abril e junho, pulou para 6,3%.

- A indústria passa por ótimo momento, o que impacta no desempenho dos serviços, por intermédio do comércio. E a construção civil está muito estimulada pelo crédito direcionado (à habitação), cujo volume nominal cresceu 22,7% no período analisado - explicou Rebeca.

No setor de serviços, o comércio realmente comandou o desempenho, com crescimento de 8,1%, ante 2% no segundo trimestre de 2006. Segundo Olinto, trata-se de reflexo direto do emprego e da massa salarial.