Título: Mais emprego e renda
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 15/09/2007, Economia, p. 37

RETRATOS DO BRASIL/PNAD-2006

IBGE mostra aumento do trabalho formal. Rendimento sobe 7,2%, maior alta desde 1995.

Omercado de trabalho brasileiro ficou maior, mais rico e mais formalizado em 2006. O rendimento dos trabalhadores avançou 7,2%, na maior alta desde 1995, chegando a R$888 (ou R$883, quando inclui Norte rural, a partir de 2004). Foi o segundo ano seguido de recuperação, com valorização real (descontada a inflação) acumulada de 12,1% entre 2004 e 2006. O desemprego caiu de 9,3% para 8,4% no último ano.

O maior levantamento dos indicadores socioeconômicos do país, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/2006), divulgada ontem pelo IBGE, apresentou ainda um Brasil com mais crianças e jovens na escola. Os dados retratam o país ao fim do primeiro mandato do governo Lula. A desigualdade recuou levemente. O saneamento e o acesso à água encanada avançaram pouco. E os computadores invadiram as casas dos brasileiros.

Uma análise detalhada da pesquisa indica, porém, que ainda há muito a avançar. A qualidade da escola é ruim, a desigualdade é maior em certas regiões, e o saneamento não alcançou 50% dos domicílios no Nordeste. E os computadores, apesar do boom de vendas, estão em 22% dos lares.

- Houve aumento da formalização com expansão heterogênea do emprego. Verificamos a entrada maior de trabalhadores de mais de 40 anos e uma taxa elevada de desemprego entre os jovens - disse Eduardo Nunes, presidente do IBGE.

Apesar da disparidade, os especialistas receberam bem os números. O economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Lauro Ramos enfatiza a qualidade das ocupações. No ano passado, das 2,129 milhões de vagas abertas, 96% foram formais, com contrato de trabalho. Incluem-se nesse conjunto empregados com carteira assinada, militares, servidores públicos e empregadores.

- Considerando apenas a dinâmica do mercado, excluindo o trabalho não-remunerado e para o próprio consumo, a ocupação cresceu 3%. O que é um número ótimo. Além disso, diminuiu a pressão sobre o mercado. Isso pode indicar que a alta do rendimento fez outros membros da família se dedicarem aos estudos ou a outras atividades.

João Saboia, diretor do Instituto de Economia da UFRJ, lembra que o reajuste real de 13,3% do salário mínimo, o maior desde 1995, contribuiu para a alta do rendimento.

- Ele serve de farol para as faixas de renda mais próximas - diz.

O aumento apurado pela Pnad/2006 aparece claramente no caso da supervisora de atendimento ao cliente Luciana Lima. Ela foi contratada na empresa em que trabalhava como temporária e, em dezembro, depois de entrar na faculdade de Psicologia, foi promovida. O salário subiu de R$500 para R$916.

- Entrar na faculdade contou bastante - diz.

O número de empregados com carteira assinada aumentou 4,7%, e já chega a um terço do total. Com o avanço da formalização, ganhou a Previdência Social. O número de contribuintes cresceu 5,4%, ou 2,249 milhões a mais. Mesmo assim, a maioria dos brasileiros ocupados permanece fora do sistema previdenciário, na informalidade. Os contribuintes são 48,8% dos trabalhadores. Um problema que preocupa, por causa da tendência de envelhecimento da população.

Quarentões voltam ao mercado

E o mesmo mercado que expulsava os mais velhos voltou a absorvê-los. Mais 659 mil pessoas entre 40 e 49 anos conseguiram ocupação, fazendo com que os trabalhadores com idade acima dos 40 já respondam por dois quintos do mercado.

- A explicação não passa somente pelo envelhecimento da sociedade. O aumento populacional foi inferior ao crescimento dos ocupados nessa faixa etária - explicou Cimar Azeredo, gerente da pesquisa.

Esse cenário favorável deve aparecer de novo no próximo ano, quando sair a Pnad/2007, cujos técnicos estão em campo este mês.

- O crescimento econômico (de 2007) deve ser maior que o de 2006, o Bolsa Família continua aumentando, e o reajuste do mínimo foi acima da inflação. Não há indícios de que esse cenário vá mudar este ano - diz Saboia, da UFRJ.