Título: Brasil pode receber investimentos de US$4 bi, após corte de juro nos EUA
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 19/09/2007, Economia, p. 26

TREMOR GLOBAL: Queda prevista do dólar deve reduzir pressão da inflação.

Segundo economistas, país será um dos maiores beneficiados da região.

O corte de meio ponto percentual na taxa básica de juros nos Estados Unidos vai trazer de volta os investidores estrangeiros ao Brasil, afirmam economistas. No curto prazo, o ingresso de divisas para o país ficará entre US$2 bilhões e US$4 bilhões. A expectativa é da Economy.com, braço de análise da Moody"s. Porém, especialistas alertam que a médio e longo prazos, os grandes investidores continuarão analisando os fundamentos macroeconômicos do Brasil para manter seus investimentos.

De acordo com Alfredo Coutino, economista sênior para a América Latina da Moody"s, em Nova York, o Brasil ficará mais rentável para os investidores estrangeiros, pois haverá ganho menor nos EUA com o juro de 4,75% ao ano. Entre os países da América Latina, o Brasil será o país que mais vai receber investimentos, acredita ele. Em segundo, ficará o México.

- O corte será bem recebido pelo mercado. E mais ainda pelos países da América Latina, que vão se tornar mais atraentes em relação aos Estados Unidos. No fim do ano, haverá resultados positivos, e a volatilidade será reduzida. O Brasil e o México serão os maiores beneficiados. No México, o governo nem vai precisar aumentar sua taxa de juros, que hoje está em 7,25% ao ano. O custo de captação na América Latina ficará mais em conta para as empresas - diz Coutino.

BC terá espaço para reduzir mais a taxa Selic

Robert Wood, gerente de risco soberano da EIU, braço de análise da "The Economist", em Nova York, é mais cético. Apesar da tendência de alta da Bovespa e de queda do dólar, é preciso ficar atento aos próximos dados da economia americana.

- O resultado no Brasil é positivo, e os avanços vão continuar no curto prazo. Mas a queda dos juros nos EUA não resolve o problema. Tem de se olhar os preços das commodities no mercado internacional e o ciclo de dinamismo da economia brasileira. Isso tudo vai depender do crescimento dos EUA, que deve avançar 1,9% este ano e 2,1% em 2008 - ressalta Wood.

Segundo Alexandre Horstmann, diretor de gestão da Meta Asset Management, o corte nos EUA ainda vai permitir que o Banco Central (BC) continue a reduzir a taxa básica de juros, a Selic, hoje em 11,25% ao ano.

- O dólar vai cair e, com isso, a inflação não sofrerá forte pressão. Assim, o BC não precisa manter os juros altos, pois a inflação está sob controle. Por isso, o Banco Central deve reduzir o juro básico em 0,25 ponto percentual em sua próxima reunião. Haverá um fluxo de recursos para o Brasil, e a Bolsa vai registrar ganhos - afirma Horstmann.

Na opinião de Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset, a decisão pode mudar de novo o cenário de corte de juros, sempre via câmbio. O diferencial de juros voltou a se alargar e, se a confiança for restabelecida, a valorização do real pode voltar a criar boas perspectivas de preços:

- Temos de esperar para ver. Mas basta lembrar que, na última reunião do Comitê de Política Monetária, a paridade cambial se encontrava em R$1,96. Hoje (ontem), o mercado já encerrou o dia abaixo do patamar de R$1,88.

Para Fabio Barbosa Knijnik, analista sênior do BES Investimento, os ativos brasileiros vão se beneficiar, já que o juro menor dos EUA vai reduzir o custo de financiamento das empresas brasileiras:

- Haverá um maior apetite por risco.