Título: Material é, às vezes, a única fonte de consulta
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 20/09/2007, O País, p. 9

Especialistas afirmam que sala de aula não é lugar de convencer.

SÃO PAULO e RIO. Sem recursos para complementar a bibliografia sugerida pelos professores, alunos carentes têm, muitas vezes, apenas o livro didático como fonte de consulta para o aprendizado. Isso amplia a responsabilidade dos autores. Américo Freire, co-autor de "História em curso: o Brasil e suas relações com o mundo ocidental", afirma que os livros didáticos devem ser abertos, mas que a sala de aula não é lugar para convencimentos políticos:

- Escrever é uma responsabilidade enorme. A gente lida com crianças de formação básica. Às vezes, o livro didático é o único a que têm acesso. Que o livro seja aberto a discussões sobre divergências. Mas somos inteiramente contrários à panfletagem. Sala de aula não é lugar para isso - afirmou Américo Freire, também o CPdoc da FGV, que preferiu não falar diretamente sobre o livro "Nova História Crítica":

- Não faço menção direta ao colega autor do livro. Mas o fato é que existe um conhecimento estabelecido, regras e metodologia. A gente tem que se valer disso para tentar transmitir aos leitores um conceito de história como um processo em construção.

Historiadora ressalta que é contra censura

A professora Marly Silva da Motta afirma ainda que a orientação ideológica de professores também é um fator preocupante, por causa do poder que exercem sobre os alunos. Para ela, livros didáticos não devem convencer ninguém:

- O perigoso é utilizar o conhecimento histórico para convencer alunos. Para fazer deles seguidores. Os historiadores não devem ter como objetivo propagar idéias, criar seguidores ou defender causas - ressalta a historiadora.

Marly destaca que é contra qualquer tipo de censura. Mas que o crivo do Ministério da Educação é fundamental para orientar a escolha das escolas.

- Se há um controle do MEC, esses mecanismos devem ser usados. Uma coisa é o livro estar no mercado e todos são livres para comprar. Afinal, ele não fere as disposições legais, não defende o terrorismo, por exemplo. Outra coisa é ele ter recebido a chancela da comissão de avaliação do MEC - disse a historiadora.

Livro não é didático nem doutrinário, diz sociólogo

Para o professor Lejeune Mato Grosso Xavier de Carvalho, da executiva nacional da Federação Nacional dos Sociólogos, o livro "Nova História Crítica" não cumpre o papel didático que deveria ter e nem o possível papel que poderia ser atribuído a ele de "manual de doutrinação".

- O livro não cumpre nem o papel de livro didático e nem o papel de manual doutrinário. Se a intenção do autor era a segunda possibilidade, se saiu muito mal - avaliou o sociólogo.