Título: Obama ameniza restrições
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Fonte: Correio Braziliense, 14/04/2009, Mundo, p. 19

Porta-voz da Casa Branca anuncia o fim das proibições sobre viagens e remessas de dinheiro à ilha comunista. Em breve, cubanos-americanos poderão enviar celulares e computadores ao país natal

Agora é oficial. Os Estados Unidos vão suspender as restrições sobre viagens e remessas de dinheiro por cubanos-americanos a seus familiares na ilha. A informação, divulgada na última semana por jornais norte-americanos, foi confirmada ontem pelo porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs. Quem mora nos EUA poderá visitar os parentes quantas vezes quiser e não terá limites para o envio de ajuda financeira. O presidente Barack Obama pretende ainda flexibilizar as regras para que os cubanos possam mandar celulares e até computadores para o país caribenho. O abrandamento, no entanto, não é nem de longe um sinal em direção à suspensão do embargo comercial à ilha, sobre o qual Obama será cobrado durante a Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, a partir de sexta-feira.

De acordo com Gibbs, o presidente orientou os secretários de Estado, Tesouro e Comércio a tomarem as atitudes necessárias para suspender as restrições aos cubanos-americanos. ¿Ao anunciar essas medidas para ajudar a transpor o vão entre as famílias cubanas divididas e promover o livre fluxo de informações e itens humanitários ao povo cubano, Obama quer cumprir as metas que identificou durante sua campanha presidencial e desde que assumiu¿, disse o porta-voz.

A suspensão de todas as restrições para viajar e enviar dinheiro a Cuba deve beneficiar 1,5 milhão de cubanos que vivem nos EUA. Desde 2004, eles só podiam visitar os parentes ¿diretos¿ (pais, irmãos e filhos) uma vez por ano. Agora, não há limites para a frequência e nem para a duração das viagens. Também não há quantia máxima a ser enviada aos familiares. ¿O presidente pedirá ao governo cubano a redução de taxas sobre as remessas enviadas à ilha para que os familiares possam ter certeza de receberão o apoio que lhes foi enviado¿, destaca a nota lida por Gibbs.

As ações previstas por Obama devem facilitar ainda a comunicação entre as famílias cubanas separadas pelo Estreito da Flórida. De acordo com o texto anunciado pela Casa Branca, o presidente vai autorizar as empresas de telecomunicações a estabelecer ligações, por fibra ótica e satélite, entre os dois países. Além disso, tornará possível o envio de computadores, celulares e receptores de sinais de satélite ¿doados¿ pelos cubanos-americanos aos parentes na ilha.

Aprovação As novas medidas não só corroboram o discurso de Obama durante a campanha, como vão de encontro ao desejo de aproximação da maioria da população americana. Segundo uma pesquisa feita pela TV CNN, 64% dos 1.023 entrevistados acham que o governo acerta ao suspender as restrições de viagens a Cuba. Um número ainda maior ¿ 71% ¿ acredita que Washington deve reatar as relações diplomáticas com Havana, enquanto 27% se opõem à ideia.

No cenário político, as reações foram diversas. O estrategista democrata Freddy Balsera, que teve participação na campanha de Obama voltada aos hispânicos, considerou a proposta ¿inovadora e agressiva¿. ¿Obama está comprometido em criar uma mudança real e significativa em Cuba, e as medidas anunciadas por ele são uma caminho efetivo para se conseguir isso¿, afirmou Balsera. Entretanto, para o senador republicano pela Flórida Mel Martinez, nascido na ilha, a suspensão dessas restrições terá impacto mínimo na melhoria da vida no país caribenho. ¿Ter mais turistas nas praias cubanas não significa que haverá mudança democrática em Cuba¿, alfinetou.

Deputados republicanos pela Flórida, os irmãos Lincoln e Mario Diaz-Balart consideraram as medidas de Obama um ¿grave erro¿. ¿Concessões unilaterais à ditadura a encorajam a continuar se isolando, prendendo e contendo de forma brutal os ativistas pró-democracia e a ditar que cubanos e cubanos-americanos possam entrar na ilha¿, destacaram, em nota publicada na internet. Segundo os dois congressistas, Obama está garantindo uma ¿concessão que vai fornecer centenas de milhões de dólares, por ano, à ditadura¿ castrista.