Título: Para FMI, efeitos da crise persistirão, com menor crescimento mundial
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 25/09/2007, Economia, p. 22

Relatório prevê aperto maior no crédito e prolongamento do processo de ajuste.

WASHINGTON e MADRI. Os efeitos da crise de crédito desencadeada pelo mercado de hipotecas de alto risco (subprime) dos EUA estão longe de serem neutralizados. A perspectiva é que a situação piore, com três conseqüências se estendendo para 2008: o aumento do custo do capital; a redução na disponibilidade de dinheiro para emprestar; e o surgimento de prejuízos ainda não revelados, mas que aparecerão nos balanços de bancos e financeiras, e que poderão abalar a saúde da economia mundial.

A previsão, feita ontem pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em seu "Informe sobre a Estabilidade Financeira Global" (IEFG), foi acrescida de um alerta: em função de um aperto ainda mais severo no crédito, o mundo deve se preparar para "um prolongado período de turbulência no setor financeiro", que terá conseqüências no crescimento da economia global - com especial ênfase nos EUA.

"Espera-se alguma redução no crescimento global. Os riscos aumentaram significativamente e, mesmo que não se materializem, as implicações desse período de turbulência serão significativas e terão longo alcance", diz um trecho do informe. A perspectiva, por enquanto, é que a economia mundial continuará crescendo, mas menos do que nos últimos dois anos.

- A redução do crescimento será maior nos EUA, e isso se refletirá na economia mundial. Tudo leva a crer que os próximos meses permanecerão desafiadores para os mercados de capital e suas instituições. As condições de crédito não deverão se normalizar em breve, e o processo de ajuste poderá ser prolongado, podendo afetar não só o custo mas também a disponibilidade do crédito - advertiu Jaime Caruana, diretor do Departamento de Mercados de Capital e Monetário, do FMI.

Na conferência anual do Clube de Roma, em Madri, o diretor-gerente do FMI, Rodrigo de Rato, afirmou que a crise "está sendo corrigida lentamente" e que seus efeitos serão percebidos em 2008, sobretudo nos EUA. Disse ainda que o crescimento da economia em 2008 será ligeiramente inferior ao de 2006 e de 2007.

A situação é confusa pois não se sabe ainda o valor dos prejuízos. Segundo cálculos iniciais, com base em dados que não abrangem balanços das instituições financeiras, o prejuízo nos EUA seria maior do que o estimado. Eles mostram que, se os preços das residências caírem 5% em um ano, e se estabilizarem, as perdas chegariam a US$170 bilhões - US$40 bilhões de bancos e US$130 bilhões de portadores de papéis garantidos por hipotecas. O total pode alcançar US$200 bilhões.

O Brasil e outros países em desenvolvimento "que melhoraram os seus fundamentos macroeconômicos e a estrutura de suas políticas" estão, segundo o Fundo, em melhores condições de suportar o impacto "das rajadas de turbulência que provavelmente voltarão":

- Os mercados emergentes conseguiram, até aqui, suportar bem o episódio de turbulência. Muitos países se beneficiaram da melhoria de seus fundamentos, de melhores políticas e maiores colchões de proteção financeira. Mas há alguns bolsões de vulnerabilidade que precisam ser monitorados - alertou Caruana, evitando mencionar os nomes de tais países.

O FMI aponta três culpados para a crise. Bancos e financeiras, que teriam relaxado os seus procedimentos; agências de risco, com falhas ao generalizar suas avaliações, sem dar atenção ao mercado hipotecário; e os próprios investidores.

No Brasil, infra-estrutura do mercado é tida como positiva

O Fundo acha que, "se o apetite internacional por riscos mudar de forma abrupta", pode haver a rápida reversão dos fluxos de capital estrangeiro nas bolsas do Brasil. Ainda assim, diz que o país tem boas condições de suportar turbulências.

Um dos motivos, para o FMI, é que a maior abertura financeira do país tem reduzido a volatilidade das injeções de capital. Elas resultaram em mais de US$40 bilhões no período de quatro trimestres completados em março, e "há a expectativa de recordes de aplicações em 2007".

Isso pode ser parcialmente atribuído às melhorias em infraestrutura do mercado brasileiro, com "os seus participantes valorizando os sólidos sistemas bancário e regulatório". "A profundidade do mercado brasileiro é explicada em grande parte pela diversidade dos investidores domésticos", disse ainda o FMI.

(*) Com agências internacionais